Ano VII

Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo

segunda-feira set 10, 2012

Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo (Seeking a Friend for the End of the World, 2012), de Lorene Scafaria

* Atenção: este texto só deve ser lido por quem já viu o filme

Há dois filmes em Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo. Um deles se encaixa com perfeição no formato comédia romântica, conta com um Steve Carell em plena forma e com uma Keira Knightley exageradamente caricatural em sua maluquice. O outro é muito mais ousado, e justifica o interesse: aos poucos o tom melancólico que se insinua desde o início toma conta, num processo bem arriscado nesse tipo de produção. A trilha ajuda a compor o tom, com baladas dos Hollies, de Scott Walker e de outros embalando os momentos mais tocantes.

O filme marca a estreia na direção de Lorene Scafaria, roteirista de Uma Noite de Amor e Música, sucesso em meio ao público indie pelo uso de canções pop na trilha. Procura-se… segue toada semelhante ao associar acontecimentos importantes a hits do passado. Pode se perder em algumas ideias bobas: Knightley carregando os discos, por exemplo, ou na reação a um primeiro encontro ("se eu não te roubar, você promete não me estuprar?"). Mas a balança pesa a favor em momentos shyamalianos como a do estranho que dá carona para o casal sabendo que estava para ser assassinado, ou no corpo humano que cai do céu repentinamente arrebentando o parabrisa do carro de Carell.

Conforme o filme prossegue em sua jornada até o fim do mundo, desconfiamos que logo haverá um recuo, de acordo com a convenção hollywoodiana (um desvio do meteoro, ou alguma providência divina). Mas esse recuo não acontece, e com isso testemunhamos, de fato, o fim do mundo, selando um amor rápido e fulminante entre dois perdidos na vida.

Longe de ser imperdível, ou mesmo bom, pode-se ver Procura-se com facilidade, sobretudo pela presença de Carell e pela empatia que ele consegue com quase todas as atrizes com que trabalha, mesmo com a sonsa da Knightley. No meio de tanta tranqueira despejada em nossas salas, o filme de Scafaria ainda mostra que, em matéria de cinema comercial, Hollywood pode estar cambaleante, mas decaiu menos que outras cinematografias.

Sérgio Alpendre

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