A Outra Terra
A Outra Terra (Another Earth, 2011), de Brit Marling
Apresentado pela primeira vez em 2011, em Sundance – onde levou o prêmio especial do júri – A Outra Terra, assim, acabou antecipando três dos maiores destaques de Cannes daquele mesmo ano: A Árvore da Vida, Melancolia e O Abrigo (este também muito discutido no festival americano).
Em comum, a busca por entrepor as vidas de seus personagens numa cosmologia de interseção, seja ela intimidante, como em Lars von Trier e Jeff Nichols, ou numa lógica de remição, no caso de Terrence Malick e, principalmente, do jovem Mike Cahill, aqui estreando no universo ficcional em longa-metragem, assinando um roteiro compartilhado com Brit Marling, a protagonista (e o destaque) do filme.
Ela é uma estudante de astrofísica que, ao buscar no firmamento as evidencias da notícia divulgada no rádio em seu carro (o surgimento de um novo planeta, a tal “outra Terra”), causa um acidente que irá vitimar fatalmente toda a família de um eminente compositor. Depois de cumprir quatro anos de retenção, a moça tentará desculpar-se para o músico que, agora, passa seus dias largados no sofá de sua casa. Simultaneamente, ela participa de um concurso que irá sortear uma passagem para esta Terra-2, que cientistas constataram tratar-se de um planeta espelho deste nosso velho mundo, habitado por versões possivelmente idênticas a cada um de nós – isso pelo menos até o final desta sincronicidade anônima, após esse revolucionário descobrimento mútuo (se nós os descobrimos, o mesmo pode ser dito deles).
Está aí a base para esta variação metafísica dos manjados contos de regresso ao ninho e de possibilidades de novos horizontes. Está aí um típico projeto de iniciantes, onde abundam as ilustrações estapafúrdias das psiques destes esmorecidos seres: ela abandona os estudos, tornando-se faxineira em um colégio e chegando ao desalentado viúvo lhe oferecendo a limpeza de sua residência, praticamente abandonada. Pior é sua amizade com um velho colega de serviço, cego e surdo em penitência.
Se visto como uma história de convalescença e regeneração pela fantasia, no entanto, A Outra Terra funciona consideravelmente melhor, com a bela, e principiante, Brit Marling nos fazendo esquecer um pouco dos tiques afetados de Cahill, por demais encantado com a possibilidade da utilização do zoom de sua câmera digital.
Bruno Cursini
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