As Aventuras de Tintin
As Aventuras de Tintin (The Adventures of Tintin, 2011), de Steven Spielberg
Com relação às adaptações para cinema e televisão da obra de Georges Prosper Remi, a.k.a. Hergé, os milhões de leitores de Tintin pelo mundo não tem o que reclamar. Começando por uma produção feita em stop-motion de 1947 ao seriado animado de grande sucesso dos anos 1990, passando por dois live-actions realizados respectivamente em 1961 e 1964, todas as versões conseguiram transpor com fidelidade a grande criação de Hergé. Bem menos sorte tiveram outros personagens de quadrinhos franceses, como Asterix, com um filme pior do que o outro. E não foi por falta de um bom elenco (Depardieu, Benigni, Delon). A maré de azar afetou até a última animação, Asterix e os Vikings, que teve aqui no Brasil sua ruindade coroada com uma desastrosa dublagem com membros do humorístico Pânico. Resultados pífios também tiveram as recente adaptações de Blueberry (criação de Moebius), perdido entre os excessos visuais do cineasta Jan Kounen, e da menos conhecida Adèle Blanc-Sec – esta levada para as telas em As Múmias do Faraó, sob o comando das mãos pesadas de Luc Besson.
Após ficar sabendo da existência de Tintin e das comparações com Os Caçadores da Arca Perdida, Steven Spielberg conseguiu a benção do próprio Hergé para dirigir um filme estrelado pelo jovem e intrépido jornalista. Após a morte do criador do personagem em 1983, o americano comprou os direitos de adaptação de Tintin, mas levou 25 anos para decidir seguir adiante com o projeto. Por sorte, não o deixou para diretores de segunda ou aventureiros tecnológicos como o que Zemeckis se transformou. Em parceria com Peter Jackson, grande fã de Tintin desde a infância, Spielberg conseguiu um resultado admirável em As Aventuras de Tintin. Com sua história baseada principalmente nos livros O Caranguejo das Pinças de Ouro e O Segredo do Licorne, o diretor resolve o problema da captura de movimento para animação, que fazia os personagens dos filmes de Robert Zemeckis (O Expresso Polar, Beowulf) parecerem figuras inanimadas de museu de cêra. As feições de Tintin (Jaime Bell), Capitão Haddock (Andy Serkis) e demais criações conseguem passar vida e também canalizar a boa interpretação de cada ator de carne e osso do elenco. Mesmo o virtual e fiel cão Milu é um show a parte. Com isso, Spielberg entrega um espetáculo como há muito não conseguia, superior ao último Indiana Jones e a sua aventura mais consistente desde Jurassic Park (1993).
Leandro Cesar Caraça
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