O HOMEM QUE QUERIA SER REI
O Homem que Queria Ser Rei (The Man Who Would Be King, 1975), de John Huston
A desconfiança e a má vontade que a crítica ainda possui com relação a John Huston, impediu que o cineasta assumisse seu lugar de direito no panteão que abriga outros heróis do cinema americano, como Ford, Hawks e Walsh. Ao contrário desses três, Huston não começou a carreira no período mudo e nem assinou um western classicista de destaque (o que para alguns seria um fator necessário). Também podemos dizer que a briga de egos entre os membros da Cahiers (contra Huston) e da Positif (geralmente a favor) contaminou o pensamento da cinefilia posterior.
Mas talvez Huston se enquadrasse de fato na geração dos inconformistas, que abrigava nomes do calibre de Robert Aldrich e Richard Brooks. Cineastas que ao chegar da Nova Hollywood, não penduraram as chuteiras e continuaram a lançar trabalhos de destaque, embora mal recebidos em sua época. Ao longo das décadas de 60 e 70, Huston realizou uma longa série de filmes, sendo que a maioria precisa ser revista e ter seu valor reconhecido. Uma obra que não necessita disso é O Homem que Queria ser Rei de 1975, uma magistral aventura baseada em livro de Rudyard Kipling e estrelada por Sean Connery e Michael Caine.
O desejo de Huston era filmar a história na década de 1950, com Humphrey Bogart e Clark Gable, mas a morte de Bogart atrasou o projeto em quase vinte anos. Levando em conta a qualidade da versão com Connery e Caine, não há motivos para lamentar. Os dois astros estão perfeitos como ex-oficiais do Império Britânico do século XIX que partem para o fictício reino do Cafiristão em busca de poder e riquezas. É um filme que trabalha as mesmas questões da ambição humana mostradas em O Tesouro de Sierra Madre, outra obra-prima de John Huston. Entre tantas que ele colecionou ao longo dos anos.
Leandro Cesar Caraça
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