Ano VII

O Vingador do Futuro

segunda-feira ago 27, 2012

O Vingador do Futuro (Total Recall, 2012), de Len Wiseman

Existem várias razões para você ignorar este update de O Vingador do Futuro, sendo, a  primeira delas, a inegável fragilidade do filme em si. Não é preciso – ainda que praticamente inevitável, como se notará abaixo – compará-lo ao original de Paul Verhoeven para rebaixá-lo a apenas mais um amontoado de corre-corre em situações absurdas, com seus intérpretes pendurados em cabos em frente a um onipresente fundo verde.

Ademais, acredito que serão poucos aqueles que irão às suas sessões buscando as súbitas degenerações da versão do cineasta de Instinto Selvagem e Showgirls e, conforme Len Wiseman, diretor de Anjos da Noite – A Revolução (veja só com o que deveríamos o estar defrontando), avança sua adaptação mais do que livre do conto de Philip K. Dick, fica-se claro o cuidado da produção em higienizar quaisquer impurezas remanescentes de seu precedente: separados por mais de duas décadas, é sintomático aqui – e em outros blockbusters recentes – as ausências de vísceras, sangue e, sim, músculos e frases de efeito, antes exibidas por presenças carismáticas ao invés de atores buscando profundidade onde, francamente, não há.

São os filmes para as eternas crianças tirando do mercado os anteriormente malfadados filmes para os eternos adolescentes. E o pior é que tais produções não se contentam em apenas arrecadar nas bilheterias e nas promoções em redes de fast-food, mas aspiram, também, à legitimação daqueles que, de outra forma, não perderiam seu tempo com supostas bobagens. O Senhor dos Anéis, Matriz, a trilogia do Batman de Christopher Nolan (aliás, toda a carreira deste), qualquer desenho animado (animação, melhor dizendo): raros se sentem confortáveis em sua posição de produtos para entreter.  

Ao pensarmos em ficção científica, então, a coisa fica mais complicada. Mal comparando, ela é a música country dos gêneros cinematográficos, a todo instante patrulhada por caçadores de uma suposta autenticidade, munidos com lupas voltadas obstinadamente à sua origem. Não importa se a comédia quase sempre abarca elementos de romance, de drama ou de ação, tampouco se seus personagens são verossímeis e suas situações naturais ou impostas à fórceps por um grupo de roteiristas. Se você ri mais do que chora, escuta mais frases presumidamente engraçadas do que tiros e explosões; pois bem, pode catalogá-lo ao lado dos Trapalhões. 

Da ficção, como indica sua denominação, espera-se razões científicas, explicações racionais e um espelhamento engajado de nossa realidade contemporânea. E deste mal, ufa, pouco padece este O Vingador do Futuro e talvez isso se deva ao fato de Wiseman – a despeito de ser um operário que rege sob as demandas de seu mercado – demonstrar um mínimo de apreço pelos grandes sucessos do passado, vide ter sido ele o contratado para dar continuidade à série Duro de Matar.  

Não que sua filmografia seja grande coisa, é apenas que, apesar da facilidade de ignorar ou atacar sua releitura do clássico de Verhoeven, devemos saudar o abrandamento de suas pretensões frente a seus colegas de profissão. Sim, o visual de Blade Runner salta da tela a 24 quadros por segundo e, certamente, os abundantes Lens Flares daqui saíram de algum curso intensivo de análise estética dos últimos trabalhos de Steven Spielberg e os veículos, que agora voam, da mesma locadora de Minority Report (que podemos considerar a segunda parte da mais importante trilogia involuntária recente do gênero, entre A.I. e Guerra dos Mundos). Mas, no geral, fica-se a impressão de apenas mais uma aventura e – quer saber? – com menos de duas horas de duração e sem continuações no horizonte, já começo a considerá-la bastante agradável e, neste sentido, intimamente mais perto do original. 

Bruno Cursini

© 2016 Revista Interlúdio - Todos os direitos reservados - contato@revistainterludio.com.br