Ano VII

Bem-amadas

quarta-feira jul 25, 2012

Bem-Amadas (Les Bien-aimés, 2011), de Christophe Honoré

"Você está com alguém?"

"Sim, estou com Henderson."

"Henderson? Você voltou a vê-lo?"

"Não, mas não consigo me ver com nenhum outro. É meu marido imaginário."

Quem bola um diálogo desses quer mais é tirar uma onda com a audiência. Podemos imaginar a concepção desse troço: "vamos colocar um marido imaginário para ela. Ele é gay, mas a ama como nenhum heterossexual seria capaz". Ou: "ela vive flertando com o Louis Garrel. Quem não flertaria com o Louis Garrel? Eles se envolvem, mas não firmam nada". E finalmente, pensando no contexto geral: "Já sei, vamos colocar eles cantando, assim não haverá a menor possibilidade de incomodar os fofos que forem assistir ao filme". Ok, nesse momento alguém de bom senso que estivesse na mesma sala já teria se retirado com fortes enjoos estomacais. E assim caminha o cinema francês. Lantejoulas cinematográficas pensadas para não incomodar a plateia. Um filme concebido como um adereço de berço para entreter espectadores infantilizados.

Esse diálogo entre os personagens de Chiara Mastroianni e Louis Garrel entrega: estamos em um filme de Christophe Honoré, e como sempre o mais importante é colocar frases idiotas na boca de seus personagens do que torná-los realmente interessantes. Vemos uma série de esquetes (alguns cantados) que parecem mais pedaços de uma grande campanha publicitária, dessas enganações de produtos e benefícios que os bancos lançam aos montes para continuarem lucrando rios. Chiara cantando e fingindo tristeza. Deneuve cantando e fingindo nostalgia. Garrel cantando e fingindo que é ator. Não dá para comprar nada disso. Enfim, um desastre total.

Tentando fazer uma homenagem a Jacques Demy, Honoré consegue, no máximo, atingir um estágio sub-Ozon, repetindo duas atrizes de Oito Mulheres (com o qual Ozon atingiu a mediocridade mais uma vez em sua carreira): Catherine Deneuve e Ludivine Sagnier. As cenas deste novo horror de Honoré são indigentes; a câmera trabalha mal e porcamente o espaço filmado em scope e os personagens vivem como os monstrinhos do antigo jogo de Atari Pac-Man, indo de um lado para o outro sem saber direito por quê, a não ser que precisam comer o biscoitinho da sorte. Na trilha sonora, uma versão indie de "I Go to Sleep", dos Kinks, aparece de vez em quando para temperar o clima agridoce em que até um suicídio ganha ares de frivolidade.

Se Canções de Amor (2007) era medíocre, Em Paris (2006) de uma tremenda boçalidade, e A Bela Junie (2008) um semi-desastre, este Bem-Amadas é insuportável em seus intermináveis 139 minutos. Nem quero saber como ele chegou de um a outro (há dois filmes entre os dois últimos citados). O que me espanta é que algo desse quilate consiga agradar tanta gente.

Sérgio Alpendre

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