O Último Magnata
O Último Magnata (The Last Tycoon, 1976), de Elia Kazan
Baseado no inacabado romance de F. Scott Fitzgerald, The Love of the Last Tycoon, O Último Magnata recorta a trajetória do produtor Irving Thalberg, lenda da MGM, rebatizando-o de Monroe Stahr. No filme, o Monroe que conhecemos é um perseguidor implacável. As quatro décadas que se passaram à morte de Thalberg permitiu um olhar muito crítico.
Se outros filmes de dedicaram a ressaltar a magia do cinema, O Último Magnata faz justamente o oposto: desmascara o artifício. O enredo de Monroe, seus amores e seu cotidiano como chefão do estúdio são contrapostos com trechos de filmes em produção sob sua batuta. Assim, um momento idílico do casal Rodriguez (Tony Curtis) e Didi (Jeanne Moreau) entra em contraste com os bastidores e as brigas dos atores.
Uma tocante cena de amor é estraçalhada por um comentário de Monroe, seco e direto. Kazan faz um filme que encontra umas brechas para falar sobre o ato de fazer filmes – não no escopo da linguagem, mas da produção, dos bastidores. O que está na tela como antirreflexo do que está por trás das câmeras. Essa estrutura de espelho permeia todo o filme.
É como se Kazan tivesse observado as primeiras sequências de Faces, de Cassavetes, em que chefões de um estúdio recebem com imenso desdém um filme de arte, e decidisse fazer desse modus operandi da indústria americana de cinema um filme de ficção. De quebra, ainda encontra um vazio para comentar o papel do cinema no período de Depressão nos EUA.
No diálogo mais brilhante do filme, Monroe evidencia uma certa maneira de ver o cinema: “Eu gosto dos roteiristas, os entendo. Eu não me acho mais inteligente que eles, apenas que seus neurônios pertencem a mim”.
Há ainda para apreciar em O Último Magnata um desfile de atores veteranos. Robert Mitchum é a sombra de Stahr. Tony Curtis, lindo aos 50 anos, interpreta um galã problemático e inseguro que contracena com uma atriz desequilibrada, vivida por Jeanne Moreau. Ray Milland, o bêbado irrecuperável de Farrapo Humano, também faz uma participação, assim como John Carradine, que abre o filme. Todos como espécie de citação e homenagem a um cinema que já era coisa do passado nos anos 1970.
A obra derradeira de Elia Kazan não deixa, após o término da sessão, aquele gostinho de ter presenciado o prazer pleno do momento. Mas conforme a poeira abaixa, as cenas construídas com maestria (como o duelo entre De Niro e Jack Nicholson, um show de decupagem) permanecem.
Heitor Augusto
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