Ano VII

CineOP: balanço

terça-feira jul 17, 2012

Balanço da 7ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto

Por Heitor Augusto

Até quem não acompanha o dia a dia dos bastidores das instituições de preservação dos arquivos do cinema brasileiro percebeu o estranhamento. Fazia tempo que não se via a Cinemateca Brasileira ser confrontada abertamente.

Nos bastidores, a crítica é corrente. Centralizadora, criadora de empecilhos para acesso ao acervo, cobrança tanto para consulta dos filmes quanto para entrada nas retrospectivas por ela realizada são reclamações constantes – mudam-se o emissor ou o interlocutor, mas a crítica é a mesma.

Num dos debates da 7ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, o que antes permanecia atrás das cortinas veio ao palco, foi bem iluminado e exposto. O restante deste ano e de 2013 devem indicar, porém, duas coisas fundamentais: se as críticas vão reverberar e permanecer como discurso sólido disposto a debater seriamente a postura da Cinemateca; se a natureza das críticas esteve também motivada por questões outras que não o assunto em si (traduzindo: se a briga por espaço político por um acaso tem a ver com a enxurrada de críticas).

Só o que acontecer daqui em diante vai responder essas questões. Mas ficou claro o estranhamento entre atores do setor e entidade. E isso é muito bom. Ainda mais com o emparelhamento da realidade brasileira no quesito acervos de imagens com a de outros países como a Itália e Estados Unidos, algo que a CineOP proporcionou nesta edição.

Temática histórica

A discussão sobre o passado do cinema brasileiro e o que ele lega e oferece de respostas ao presente, me pareceu uma bem-vinda continuação do que se viu na CineOP de 2012. No ano passado, priorizou-se a década de 1950, Carlos Manga e chanchadas. Neste ano, os Irmãos Farias, Gustavo Dahl, e a transição ao Cinema Novo.

Legal a audácia da curadoria em colocar os Irmãos Farias no eixo da mostra, tirando-os de um limbo cinematográfico – especialmente Roberto – e oferecendo um lugar de respeito ao seu cinema. Roberto merece, especialmente pelos filmes Assalto ao Trem Pagador, Cidade Ameaçada e Selva Trágica. De Reginaldo, porém, a CineOP poderia ter oferecido mais.

Barra Pesada, o filme de Reginaldo como diretor que a mostra decidiu exibir, já se sabe que é grande, o melhor dele. Por que não jogar luzes nos longas desconhecidos de Reginaldo? Por que não criar diálogos entre as pouco conhecidas comédias de costumes que ele dirigiu, como Os Paqueras, Pra quem Fica, Tchau e Os Machões? A falta de cópias de tais filmes é a resposta?

Curtas, médias e longas contemporâneos

Que linda a sessão na praça de A Cidade é uma Só? em Ouro Preto! O espaço adequado para a comédia-gângster de Adirley Queiroz. Tirando este, os outros longas a que assisti não me animam a estender um comentário. Foi correta a decisão da curadoria em trazer Dino Cazolla e A Mulher de Longe para a mostra mineira, já que são documentários que ou trabalham ou discutem a preservação de arquivos – o que torna Ouro Preto a janela sensata para esses filmes.

Porém, nenhum dos dois chega a ser grande. O primeiro pelas questionáveis escolhas de montagem e também por buscar sensibilizar o espectador à força – como se o cenário caótico já não fosse suficiente. O segundo pela falta de balanço entre a poesia das imagens resgatadas (a frustrada tentativa de Lúcio Cardoso em dirigir para cinema) e as registradas (planos em preto e branco na praia, capturando o movimento do mar etc).

Houve também o média Segundo Movimento para Piano e Costura, originalmente um telefilme. Bonito, singelo e delicado, é verdade, mas superficial na abordagem dos sentimentos de seus personagens – com direito a um plano final que se alinha a um dos piores componentes de um filme regular, o clichê.

Dos curtas, quatro já foram comentados com vagar nesta Revista Interlúdio. Faltaram outros seis vistos ou revistos em Ouro Preto. O melhor deles é Memórias Externas de uma Mulher Serrilhada, filme inteligente que coloca o fetiche da imagem com uma crueza que espanta – e com um jogo interessante entre bitolas (se é que dá para chamar um iPhone de bitola).

Quando Morremos à Noite manteve-se bem na revisão. Se na primeira vez me pareceu exagerada como a fotografia reflete, com escuridão, a atmosfera pesada do personagem, na sessão em Ouro Preto isso me soou natural, coerente. E continuo feliz com um curta que se dá bem com as limitações de tempo do formato e especialmente com a saída do filme da personagem feminina – de sopetão.

Aldeia tem um roteiro com um potencial que não está refletido no corte final do filme. Faltam uma melhor direção de atores e enquadramentos mais ricos, que tragam algo mais do que o posicionamento correto do ator em cena.

Vi também Bomba, mais um filme de adolescentes. Um curta simples e correto, mas com um humor muito inteligente (que não está só no diálogo, mas também nos enquadramentos), que simplesmente não leva muito a sério os dramas de seu protagonista.

Falta comentar dois curtas revistos em Ouro Preto. Continuo achando Os Mortos-Vivos apenas bom, sendo a única cena que realmente gosto é a das meninas no carro (com a motorista citando o vampiro de Crepúsculo). O outro é Jibóia, que ainda desgosto bastante. A cada sessão ele me dá mais e mais a impressão de um filme brega de grife – em vez de um filme Rua José Paulino, se parece com uma peça de uma loja da Oscar Freire querendo se passar por um vestidinho popular do Bom Retiro.

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