Flores do Oriente
Flores do Oriente (Jin Ling Shi San Chai, 2011), de Zhang Yimou
O dogma nacionalista chinês marca presença novamente no novo filme de Zhang Yimou, que a esta altura já se transformou no garoto propaganda oficial do partido. Aqui estamos diante de outra recriação do infame episódio ocorrido em 1937 e conhecido como Massacre de Nanking, quando tropas japonesas tomaram a então capital da China, exterminando mais de 200 mil pessoas. Realizado com o intuito de ser o grande produto de exportação do cinema chinês em 2011, Flores do Oriente se tornou o filme mais caro já produzido naquele país (90 milhões de dólares) e a presença de Christian Bale no elenco até conseguiu alguma atenção para o filme no exterior.
Difícil dizer o que convence menos. Seja a canastrice de Bale, aqui no papel de um agente funerário de caráter duvidoso fingindo ser um padre, ou a velha construção de personagens esteriotipados (o ocidental que só pensa em si mesmo, o japonês demoníaco, o chinês nobre e heróico que sacrifica a si mesmo). Não vamos deixar de reconhecer o caso de Nanking como um dos maiores crimes já cometidos pelo homem ao seu semelhante, só que essa retórica ufanista raramente trabalha para criar bons filmes.
Não é de hoje que o governo chinês vem investindo cada vez mais em épicos históricos, com tramas repetidas sobre fatos oficiais da sua história. De John Woo a Jackie Chan, diversos grandes nomes do cinema comercial local se renderam a essa jogada, sendo que foram poucos, como Tsui Hark (em Detetive Dee e o Império Celestial), que conseguiram escapar ilesos. Ainda em 2009, Lu Chuan apresentou City of Life and Death, uma versão igualmente brutal da mesma tragédia, porém, superior ao que Zhang Yimou cometeu. Porque se Chuan também tratou os japoneses como animais irracionais, ao menos evitou a retórica propagandista chinesa. Yimou não consegue nem um balanço satisfatório entre as cenas de ação, os momentos de extrema violência e a perfumaria que seu cinema se tornou, que ao que parece, hoje só desponta de fato nas investidas ao gênero wuxia (O Clã das Adagas Voadoras, A Maldição da Flor Dourada). As coisas se complicam ainda mais com diálogos em inglês forçados e mal escritos, e também com o personagem de Christian Bale, que nunca se torna um protagonista verdadeiro, porque afinal, pegaria mal para uma produção chinesa desse porte.
Leandro Cesar Caraça
© 2016 Revista Interlúdio - Todos os direitos reservados - contato@revistainterludio.com.br