A PROVA DO LEÃO
A Prova do Leão (The Naked Prey, 1966), de Cornel Wilde
Dirigido, coproduzido e protagonizado por Cornel Wilde, A Prova do Leão serviu, também, para mostrar as capacidades atléticas do ator, uma vez que ele fora até mesmo selecionado para competir esgrima nas Olimpíadas de Berlim, em 1936, antes de tornar-se astro de Hollywood na década seguinte, coadjuvando em uma das obras-primas de Raoul Walsh, Seu Último Refúgio, e trabalhando com Douglas Sirk, em Apaixonados.
Como cineasta, A Prova do Leão é seu filme mais famoso e a quinta de suas oito incursões atrás das câmeras. Nele, temos um enredo que, hoje, com a peste incontrolável dos reality shows, nos surge particularmente batido: Wilde é um guia de safari, na África colonial, que é feito de refém por uma tribo indígena após um ato de arrogância do caçador de elefantes que ele conduzia. De todos do grupo, ele é o único a quem é dada a chance de seguir, bem, como um leão: com os seis melhores guerreiros nativos a seu encalço.
E assim ele permanecerá, até o último plano desta lúdica aventura de sobrevivência, que continua (e continuará) funcionando por sua ingenuidade dramática e pelo talento do diretor em suas belas composições em widescreen, constantemente equiparando a vida dos animais selvagens à situação do herói branco, aleatoriamente colocado nesta situação.
Também é válido ressaltar a simplicidade e honestidade com que Wilde conduz este eficiente entretenimento evitando, com sobras, as facilidades do maniqueísmo e da heroicização deste personagem, misto de Tarzan e Robson Crusoé. Na apreciável ausência de conflitos forçosos ou tramas paralelas, uma honesta e deleitosa cumplicidade entre nosso protagonista e uma garotinha nativa, dando à trama um respiro – algo raro em tantas produções recentes semelhantes -, ressaltando, assim, que não só de bestialidade pode viver o homem, independentemente de sua posição ou cultura.
É uma afirmação leve, modesta, que certamente passará despercebida àqueles contentemente anestesiados por explosões em CGI e pipocas nadando na manteiga, enquanto aos seus olhos proliferam, em altíssima voltagem, imagens sobre as quais nenhuma forma de atenção será jamais permitida.
Bruno Cursini
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