Violeta Foi para o Céu
Violeta Foi para o Céu (Violeta se Fue a los Cielos, 2011), de Andrés Wood
É um fato bastante característico que cinebiografias não sejam muito dadas a interrogações ou a relatos verossímeis da vida da personagem em questão. Antes, preferem prestar serviços à imagem pública e idealizada que as pessoas, em geral os consumidores destas celebridades (afinal, é assim que são resumidos), têm com o retratado. Para isso, o que se mostra da intimidade ou de eventos poucos conhecidos, serve para mitificar ainda mais o homenageado, e o espectador deve deixar a sala de projeção convertido ou, então, ainda mais fiel à lenda que ali acompanhou.
De certo, este é o caso de Violeta Foi para o Céu, que fala sobre a vida e a arte de Violeta Parra (1917-1967), matrona do folclore chileno, consagrada internacional e nacionalmente por suas pinturas, tapeçarias, cerâmicas, poesias e, sobretudo, por suas canções tradicionalistas e socialmente engajadas. Mas há, também, uma vontade menos histórica de aproximação, através da qual deveríamos nos emocionar com a narrativa retratada, da mesma maneira que acontece quando lidamos com a sua obra.
Daí o precário embaralhamento da linearidade dos fatos quando, em essência, tão e somente o que acompanhamos é a inevitável e manjadíssima ascenção e queda de alguém que, aqui, o diretor Andrés Wood fará de tudo para nos provar uma vida inteiramente dedicada e, por fim, sacrificada pelo povo e pela memória de uma nação.
Da infância pobre compartilhada com sete irmãos à falência do projeto de sua vida – a tenda que serviria como a “Universidade do Folclore Chileno”, e que levaria a seu suicídio –, a acompanhamos por sucessivos traumas e superações, em um insistente movimento de interiorização de Violeta, com muita câmera na mão e planos fechados nos rostos tristes dos personagens, particularmente quando algum deles ensaia um choro (e, acredite, muitas lágrimas são derramadas nestas quase duas horas de suplício).
Assim, não é surpresa que o melhor momento do filme acompanhe o período menos dramático da cantora: aquele em que ela se apaixona por um flautista suíço, com quem passará um tempo na Europa.
Ademais, transbordam lugares comuns e saudações por demais banais a esta multi-artista autodidata e contestadora. E, como também parece regra neste subgênero recentemente tão gasto, o destaque não poderia ser outro senão a atriz principal, Francisca Gavilán, que consegue, de fato, em alguns poucos momentos, transmitir a intensa paixão de Violeta Parra por seu povo, por seus familiares e por sua criação.
Bruno Cursini
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