Cine PE – encerramento
Cine PE – encerramento
Aconteceu na primeira quarta-feira de maio a cerimônia de encerramento da 16ª edição do Cine PE – Festival do Audiovisual. À Beira do Caminho, de Breno Silveira, foi o grande vencedor.
O longa que retrata as viagens – externa e interna – do caminhoneiro vivido por João Miguel comprovou que seu apelo junto ao grande público é acompanhado por uma grande simpatia da classe artística, representada pelo júri selecionado pela organização do Cine PE.
À Beira do Caminho ganhou cinco troféus Calunga: o de melhor filme, melhor roteiro, melhor ator (João Miguel), ator coadjuvante (o menino Vinícius Nascimento) e melhor filme pelo júri popular. Não é um grande filme, mas não se pode dizer que existia alternativa claramente mais merecedora de tais prêmios. Prefiro Jorge Mautner – O Filho do Holocausto, mas sua superioridade sobre o filme de Silveira é diminuta.
Já o número de troféus para Boca, de Flávio Frederico, beira o incompreensível. Talvez só Hermila Guedes, sempre uma grande atriz, tenha sido justamente premiada. O prêmio para a direção de Frederico é um desses mistérios das cerimônias de encerramento. Imagino que uma parte do júri lutava por ele, e é justamente isso que espanta, já que o filme é uma tentativa pífia de se trabalhar com um gênero raramente bem-sucedido no Brasil.
A direção de arte de Jorge Mautner – O Filho do Holocausto é mais interessante, mas há um preconceito contra documentários, mesmo que usem expedientes de filmes de ficção (algo assumido por Pedro Bial, seu codiretor), e uma tendência a se premiar trabalhos em filmes de época, no caso de Boca, anos 1950 e 60.
Outro troféu conquistado injustamente pelo filme de Flávio Frederico foi o de trilha sonora, quando o óbvio seria entregar o prêmio ao campeão geral A Beira do Caminho, recheado de maravilhas do rei, ou mesmo a Jorge Mautner, caso a barreira que separa o documentário desse tipo de premiação fosse rompida.
Mas se os quatro troféus concedidos a Boca parecem exagerados, que diremos de outros quatro que foram para o fraquíssimo Paraísos Artificiais, longa de Marcos Prado que ganhou pela atriz coadjuvante (Divana Brandão), pela montagem bate-estaca de Quito Ribeiro, pela edição de som e, pior, pela fotografia afetada de Lula Carvalho. Ninguém é louco de questionar a qualidade de tais profissionais, mas os troféus concedidos a eles por esses trabalhos é sinal de que o nível da programação foi abaixo do desejável.
O prêmio da crítica, representada pela Abraccine, por outro lado, premiou um filme local e muito bem falado, Estradeiros, de Sérgio Oliveira e Renata Pinheiro, longa que, pelo que disseram os críticos que o viram, brigou com Jorge Mautner – O Filho do Holocausto e, vá lá, À Beira do Caminho, para alavancar o nível do festival.
O troféu de melhor curta-metragem foi para Até a Vista, de Jorge Furtado. O júri popular preferiu Depois da Queda, de Bruno Bini. Dos mais aplaudidos, Di Melo – O Imorrível e L, o primeiro foi amplamente ignorado pelo júri, enquanto L ganhou quatro troféus. O júri da crítica (Abraccine) desta vez errou feio, premiando um dos piores curtas da programação: Isso Não é o Fim, de João Gabriel.
Premiações são sempre assim, cheias de justiças e injustiças. A graça é essa. Esperemos que nos próximos anos a qualidade da programação melhore, fazendo jus à estrutura do festival (apesar das falhas), e dificultando ainda mais a vida dos jurados.
Sérgio Alpendre
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