À TODA PROVA

A excursão de Steven Soderbergh por diversos subgêneros continua firme e forte em À Toda Prova, thriller de ação e espionagem que traz como protagonista Gina Carano, ex-campeã mundial do MMA (Mixed Martial Arts). Sem muitos dotes dramáticos, Carano, sob as ordens de Soderbergh, consegue ser convincente como a agente secreta que é traída e passa a ser caçada por forças governamentais. No que se refere aos atributos físicos e habilidades de combate, a musa dos ringues passa maior credibilidade e arrebenta as figuras masculinas que se colocam em seu caminho. E não serão poucas vezes durante o percurso do filme.

Com uma trama que poderia ser de qualquer DTV de terceira categoria estrelado por Steven Seagal, ou de algum genérico oportunista da trilogia Bourne, Soderbergh esconde informações preciosas e as apresenta pouco a pouco em flashbacks, prendendo a atenção do espectador e consegindo espaço para um grande elenco de nomes conhecidos (Antonio Banderas, Michael Douglas, Michael Fassbender, Ewan McGregor). A interação deles com Carano é bem dosada, de maneira que não deixe as limitações dela transparecerem. O diretor fez um exercício semelhante em Confissões de uma Garota de Programa (2009) e conseguiu uma interpretação mais do que satisfatória da então atriz pornô Sacha Grey. Carano não oferece algo no mesmo nível, até porque o que se espera dela é a verossimilhança no desempenho físico nas cenas de luta.

As cenas de ação são filmadas de maneira econômica, porém brutal, mais próximas da forma como aconteceriam na vida real. Acompanhadas da trilha sonora pulsante de David Holmes, e reforçadas pela marcante presença de Carano, compensam o habitual distanciamente que às vezes marca o cinema de Steven Soderbergh.

Assim, conseguindo escapar do lugar-comum que têm se tornado os filmes de ação, À Toda Prova tem a finesse e a crueza dos thrillers setentistas (como gosta Soderbergh), mas também o real charme de um passado mais recente, em que fêmeas como Cynthia Rothrock (China O’Brien – A Herdeira do Dragão, 1990) e a taiwanesa Cynthia Khan (In the Line of Duty III, 1988) pulverizavam adversários em produções mais baratas, e nunca negavam fogo quando o assunto era pancadaria.

Leandro Cesar Caraça