Protegendo o Inimigo
Protegendo o Inimigo (Safe House, 2012), de Daniel Espinosa
É compreensível que um diretor estreante em Hollywood precise trabalhar com praticamente todos os clichês do cinema de espionagem quando seus poderes limitam-se ao set de filmagens, e a palavras como “ação” e “corta”. No caso do diretor Daniel Espinosa, filho de um chileno com uma sueca, caiu em seu colo, após três longas filmados na Escandinávia (dois na Suécia, um na Dinamarca) este veículo para Denzel Washington e Ryan Reynolds sobre o velho dilema comum a todos esses filmes: “em quem se pode confiar?”.
Seria necessário ter uma grande habilidade para dar conta de tantos elementos batidos sem aborrecer o espectador capaz de uma mínima dedução. Em Protegendo o Inimigo temos falsos amigos e falsos inimigos, lista comprometedora com nomes diversos, frase que significa problemas (“você fez um ótimo trabalho, mas nós assumiremos a partir daqui” – e que havia sido cantada pelo mais importante dos falsos inimigos), polícia como uma instituição insignificante no grande esquema das coisas, perseguições de carros em ruas com tráfego intenso e batidas violentas e repentinas entre dois veículos.
Espinosa deleita-se com todos esses clichês como um moleque que sempre quis repeti-los, sem a menor desenvoltura para algo mais que não o caminho mais fácil no desfecho das situações. Seu estilo é semelhante ao de Tony Scott: montagem super picotada, câmera frenética, que privilegia mais a confusão de sentidos do que a encenação, cores saturadas e certa granulação. A imagem geral do filme, passado todo na Cidade do Cabo, é realmente bem feia, contrastando com a bela imagem aérea que vimos da mesma cidade em Invictus, de Clint Eastwood. Além disso, a simples formação do elenco já permite que adivinhemos, bem antes do final, quem é boa gente, quem não é, quem entra de vítima por ingenuidade, quem está ali a passeio, e quem está em dúvida em relação a tudo isso. Ficamos apenas esperando que alguma surpresa salve o filme do fiasco total, enquanto tentamos evitar o enjoo diante de tanto frenesi rítmico. Mas que surpresa esperar de um filme que já se revela uma grande bobagem com dez minutos de projeção?
Sérgio Alpendre
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