John Carter
John Carter – Entre Dois Mundos (John Carter, 2012), de Andrew Stanton
Saídos da imaginação de Edgar Rice Burroughs, os onze romances que formam a série Barssom há quase um século servem como fonte para escritores de ficção e fantasia. Publicado como livro em 1917, A Princess of Mars foi a primeira aventura de John Carter, um misterioso veterano da Guerra de Secessão que é transportado para o planeta Marte, se envolvendo numa guerra entre várias raças daquele mundo. Utilizando uma espécie de forma astral em Barssom (nome de Marte para seus habitantes), enquanto o seu verdadeiro corpo hiberna na Terra, e também ganhando força e agilidades sobre-humanas no planeta vermelho, fica claro de onde Jerry Siegel e Joe Shuster – os criadores do Superman – e James Cameron (por causa de Avatar) buscaram inspiração.
A primeira tentativa de adaptar a obra aconteceu em 1931, sob o comando de Robert Clampett, um dos maiores (e insanos) animadores que já passaram pelos estúdios da Warner. Trabalhando com acolaboração do próprio Burroughs e do filho deste, Clampett esperava criar o primeiro longa-metragem animado da história utilizando a técnica da rotoscopia. Os produtores da MGM que bancavam a produção, acharam os primeiros testes de animação não se encaixariam no gosto do americano padrão e então o projeto foi cancelado. Ao longo das décadas seguintes, A Princess of Mars se transformou num verdadeiro desafio para roteiristas e diretores de Hollywood, que esperavam de alguma forma conseguir levar a criação de Burroughs para a tela grande.
A moderna tecnologia atual permitiu a nova geração de técnicos reproduzir o Barssom de Burroughs. Depois de passar pelas mãos de John McTiernam, Robert Rodriguez e outros mais, o projeto acabou interessando a Disney que comprou os direitos da filmagem. A direção foi oferecia para Andrew Stanton, um dos nomes mais prestigiados da Pixar e que foi responsável pelos sucessos Procurando Nemo e Wall-E. A partir daqui, o equívoco se dará em duas frentes e ajudará explicar o fracasso que John Carter acabou sendo.
Faltou a Stanton criar algo que diferenciasse o filme de tudo o que veio antes dele, e que por ironia maior, o material original foi o ponto de partida. Há poucos momentos de brilho em John Carter e mesmo neles o público sentirá uma sensação incômoda de déjà vu, com imagens de Avatar e Ataque dos Clones (de George Lucas) surgindo em suas mentes. Stanton trama seus personagens como seres animados, não dando aos atores chance alguma para que eles se sobressaiam diante de toneladas de CGI. Não que nomes como Taylor Kitsch (no papel de Carter) e Lynn Collins (como Dejah Thoris, a princesa de Marte) fossem capazes de algo mais do que ser um mero enfeite. Fora todos os outros problemas, o mais gritante, é que não enxergamos aonde estão impressos os duzentos e cinquenta milhões alegados que foram gastos na produção.
A bagunça também tem origem na forma como John Carter foi trabalhado dentro do marketing da Disney. Mudanças no título (sem qualquer menção a palavra Marte) e na presidência no departamento durante a produção atrapalharam a forma como a imagem do filme foi vendida ao público. Alienados, os espectadores leigos pouca atenção deram e restou para John Carter e demais personagens serem apenas mais um produto genérico. Muito pouco para um herói tão seminal.
Leandro Cesar Caraça
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