Ano VII

Projeto X

quinta-feira mar 15, 2012

Projeto X – Uma Festa Fora de Controle (Project X, 2011), de Nima Nourizadeh

Se Beber, Não Case e Projeto X – Uma Festa Fora de Controle são filmes gêmeos. Além da óbvia constatação de que Todd Phillips assina a produção de ambos (além da direção do primeiro), os dois trabalham na mesma frequência com o humor (o que pode ser lido por uns como “vou correndo para o cinema” tanto como “vou passar longe do cinema” para outros).

Mais importante, porém, é o fato de que ambos têm material para se falar por horas sobre a repressão sexual e social. A gênese dos personagens do filme-ressaca de Phillips é a mesma dos adolescentes do filme-testosterona de Nima Nourizadeh: os que se permitem enfiar o pé na jaca apenas uma vez na vida.

Em Se Beber, Não Case – seja a Parte I ou II –, os meninos grandões, adultos infantilizados, enchem a cara na despedida de solteiro de um membro da turma e se metem numa série de roubadas – em Vegas no primeiro filme, Bangcoc no segundo. O público descobre ao mesmo tempo que os próprios personagens o que se passou na fatídica noite da qual ninguém guarda lembrança.

Com Projeto X, mostra-se a festa de aniversário de um looser, Thomas (Thomas Mann). De fracasso premeditado, a comemoração transforma-se num sucesso épico graças aos métodos pouco ortodoxos de seu melhor amigo, Costa (Oliver Cooper), e do parceiro J.B. (Jonathan Daniel Brown, o novo candidato a ocupar a cota gordinho adolescente da comédia americana, assento até então dominado por Jonah Hill). Na ânsia de não mais ficar à margem do mundinho “blah” do colegial, Thomas embarca na ideia da grande festa que a cidade de Pasadena jamais esquecerá.

É justamente na fuga à norma que ambos os projetos se encontram. Por trás do ar de arromba dos acontecimentos e da falsa libertinagem do filme (pois as mulheres continuam transando com calcinha, o que é típico do cinema americano supostamente liberado, como pontua constantemente o crítico Celso Sabadin), Projeto X é tão careta quanto o seu padrinho.

No fim das contas, mantém-se as coisas do jeito que elas eram: pessoas reprimidas 364 dias por ano, que se espantam por encontrar um “consolo” na gaveta (Projeto X) ou por terem transado com uma travesti (Se Beber, Não Case – Parte II). Em apenas um dia, um momento fugaz, os personagens de ambos os filmes permitem ser o que querem ser. Mas bem rapidinho, porque é hora de voltar aos trilhos.

Dá pra ser mais careta que isso?

Desses tipos encalacrados que ambos os filmes dividem, Projeto X ainda é um pouco menos conservador. Numa sequência embalada por um heavy metal, entra num looping de insanidade. Além disso, a festa de arromba que Thomas dá em sua casa o coloca, apesar dos estragos irreparáveis (só vendo o filme para entender a dimensão), num outro patamar no colégio.

Fica-se com aquele gosto de que “valeu a pena”. Que bom que o filme de Nourizadeh se permite ao menos a isso. Pero no mucho, pois a condenação virá ao anti-herói.

Cabe, então, à vontade do espectador perceber o quão bizarra é esta sociedade que permite a liberdade como algo de exceção, porque o filme, no máximo, apresenta o jeito que as coisas estão – e finalmente enquadrar seu protagonista num xilindró moral.

Heitor Augusto

© 2016 Revista Interlúdio - Todos os direitos reservados - contato@revistainterludio.com.br