TÃO FORTE E TÃO PERTO
Tão Forte e Tão Perto (Extremely Loud & Incredibly Close, 2011), de Stephen Daldry
Tão Forte e Tão Perto é a adaptação do segundo romance de Jonathan Safran Foer, Extremamente Alto e Incrivelmente Perto. Quando de seu lançamento, em 2005, o jovem autor fora questionado sobre o risco de abordar um tema espinhoso, no caso, os ataques terroristas de 11 de setembro. Sua resposta seguiu mais ou menos assim: “o que me parece arriscado, é não inserir em seu trabalho os assuntos cruciais de seu tempo. Esse é o verdadeiro risco para um autor”.
Quem parece concordar com essa réplica é Stephen Daldry, diretor deste, que é dos poucos longas-metragens a buscar uma visão “para a família” do tema. Antes, Daldry já havia demonstrado sua inclinação aos “assuntos cruciais de seu tempo” e, como Foer, em seu romance anterior, Tudo Se Ilumina, já tinha passeado pelo holocausto, com O Leitor. Além desses, sua filmografia completa-se com As Horas e Billy Elliot, respectivamente envolvendo enfermidades/suicídios e preconceitos.
Uma diferença, no entanto, separa autor e cineasta: enquanto o primeiro inspira-se em compatriotas do quilate de William Gaddis, John Barth e Phillip Roth, o diretor inglês parece menos ambicioso, sempre disposto a realizar um cinema conforme os preceitos da indústria. Em comum, ambos não conseguem realmente aproximar-se de suas intenções.
Tão Forte e Tão Perto tem roteiro de Eric Roth, exibindo muito do já presente em seus trabalhos anteriores, mais notadamente Forrest Gump e O Curioso Caso de Benjamin Button. Como nestes, o que está em jogo é a vida de um personagem atípico (um garoto supostamente com a Síndrome de Asperger), passando por variados e carismáticos tipos e eventos históricos. Além da queda das Torres Gêmeas, lá pelo meio do enredo, temos Max Von Sydow como “O Inquilino”, um senhor ainda atormentado e emudecido pelos bombardeios em Dresden, durante a Segunda Guerra Mundial.
Ele vai com Oskar (o tal garoto, protagonista da história), perambular por Nova Iorque, na autoimposta missão em busca da fechadura para a chave encontrada no armário de seu pai (Tom Hanks), morto há um ano nos atentados terroristas. Este é o fato capital do filme, e toda a história ergue-se em torno do momento em que, sozinho em seu apartamento, Oskar escuta as mensagens deixadas na secretária eletrônica por seu genitor, no instante da catástrofe.
O clímax, desse despropósito, dá-se de maneira bastante doentia, com direto à contagem progressiva e tudo: finalmente deixando outra pessoa escutar as gravações, Oskar e seu parceiro idoso seguem (masoquistamente, da parte do menino) aguardando pela última mensagem.
Uma vez que parece absurda a simples ideia de um garoto andando solto pela metrópole, conhecendo pessoas das mais variadas ordens, castas e congregações (todas, no entanto, predispostas e solícitas, até mesmo quem assim não surge, de imediato), falta, ao filme, ênfase no faz de conta, como acontecia na adaptação cinematográfica do primeiro romance de Foer, Uma Vida Iluminada. Ali, como no roteiro mais famoso de Eric Roth, ao menos tínhamos uma agradável coerência e transparência no conjunto. Aqui, Forrest não corre. Cai, repetidas vezes, no vazio.
Bruno Cursini
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