Sombras na Filmografia de Coppola
A filmografia de Francis Ford Coppola costuma causar confusão em relação a algumas obras as quais o cineasta se envolveu, mas que não poderíamos chamar realmente de filmes de Coppola. O primeiro desses casos foi The Bellboy and the Playgirls (1962), remontagem do filme alemão Mit Eva Fing Die Sünde An, dirigido por Fritz Umgelter e estrelado por Karin Dor em 1958. O trabalho de Coppola consistiu em adicionar cenas de nudez feminina em 3D ao material original.
Coppola em seguida foi contratado por Roger Corman, e como sua primeira função, teve que dublar e remontar a ficção científica Nebo Zovyot (Mikhail Karzhukov e Aleksandr Kozy, 1959) em Batttle Beyond the Sun, lançado em 1962. Graças à nova dublagem, Coppola transformou os personagens que correspondiam aos russos em americanos e vice-versa. Também acrescentou dois bizarros monstros espaciais, um deles semelhante a um órgão sexual masculino e o outro, tinha uma boca que lembrava uma vagina com dentes.
Entre outras funções sob o comando de Corman, incluindo aí a direção de Demência 13 (1963), Coppola também participou do filme em conjunto Sombras do Terror (também de 1963). Acreditando que poderia realizar uma última produção antes de desmontar os cenários utilizados em O Castelo Assombrado e O Corvo, Roger Corman gravou cenas com Boris Karloff e outros atores – muitas vezes apenas andando pelos cenários – sem ter um roteiro ou história em mente. Mais tarde, foram escalados Coppola, Jack Hill, Monte Hellman e até mesmo Jack Nicholson, ator principal do filme, para rodar novas cenas e tentar criar alguma coerência narrativa na coisa toda.
Quase 40 anos mais tarde, o nome de Coppola voltaria a ser associado a um filme que fora requisitado para mexer em algumas coisas aqui e outras ali. A ficção Supernova (2000), desde o início das filmagens, se mostrou um grande abacaxi a ser descascado. Um projeto desenvolvido por William Malone (A Casa da Colina) nos anos 90, e que seria dirigido pelo australiano Geoffrey Wright (Skinheads – A Força Branca). Seria, se este não abandonasse o barco poucas semanas antes das câmeras começarem a rodar por diferenças criativas. Entra em cena o veterano Walter Hill (Ruas de Fogo, Inferno Vermelho), que conseguiu finalizar as filmagens mesmo com diversos atritos com a MGM em relação ao roteiro e ao orçamento. Tanto Hill quanto os produtores detestaram o resultado final, e Jack Sholder (O Escondido) foi chamado para deixar o filme mais palatável ao grande público. Acabou mexendo na estrutura do filme, modificando ações e o destino de personagens, e mesmo assim, aquilo não ficou do agrado da MGM. É quando Coppola surge para bagunçar ainda mais as coisas. Contratado para reeditar o material deixado por Sholder, a maior façanha de Coppola em Supernova foi pegar uma cena de amor não aproveitada entre Peter Facinneli e Robin Tunney e modificá-la, para parecer que os atores em cena eram James Spader e Angela Bassett – de acordo com Coppola, o momento íntimo de Spader e Bassett no filme, não era tórrido o bastante. O truque utilizado foi colocar a cabeça de Spader em Facinneli e digitalmente escurecer a pele de Tunney, para que ela desse a impressão ao público de que era Bassett. Um dos maiores micos da história da MGM, Supernova acabou lançado com a assinatura de Thomas Lee, nome que passaria a substituir o mítico Alan Smithee.
Leandro Cesar Caraça
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