Ano VII

Além da Estrada

sábado set 17, 2011

Além da Estrada (2011), de Charly Braun

Além de estradas uruguaias vê-se, nesta estréia em longa-metragem de Charly Braun, uma profusão de imagens idílicas: crianças brincando na chuva, cachorros molhados, feiras agrícolas, ovelhas, algodões-doces, piqueniques e boiadeiros. Tudo sob um céu fechado, em lugares abandonados ou pouco habitados.

Neste cenário, dois jovens que há pouco haviam cruzado o Rio da Prata – no barco que atravessa as margens do rio, de Buenos Aires à Montevidéu –, se conhecem. Santiago é um argentino que, após perder os pais em um acidente, volta à America do Sul para vender um terreno que havia herdado; Juliette é belga e deseja se reencontrar com um uruguaio que havia conhecido na Europa, e que agora faz parte de uma comunidade alternativa em Rocha, litoral sudoeste do país.  Como o filme, a relação entre os dois é bucólica: a convalescença (para ele) e a busca por um amor antigo (para ela), os impedem de estabelecer uma relação amorosa.

Utilizando-se da paisagem como prolongamento dos sentimentos do casal (nada mais banal, diga-se), Além da Estrada filia-se aos road movies de maneira normativa: através de uma viagem (física e existencial), o cineasta expõe seus personagens a um mundo que lhes é estranho, os fazendo repensar suas vidas e se reposicionarem no mundo.

E o filme prossegue com certo interesse, melhorando até, no momento em que a tensão afetiva entre os dois se intensifica. Mas é justamente quando o diário de viagem diminui (cavalos correndo no campo, abelhas sobrevoando flores, mijadas ao ar livre, enfim, já deu pra ter uma idéia) e uma história, de fato, passa a ser contada – após a crise deste “não-casal” –, que a fragilidade do todo (até então presente, mas sem incomodar) se sobressai.

E a ingenuidade disso se dá pelo fato de Charly Braun achar um culpado: o que desestabiliza os amantes é a interferência de pessoas e lugares com quem os jovens já tiveram algum tipo de relação no passado: uma modelo, no vernissage do tio do rapaz, e o uruguaio que motivou a viagem da moça. É também, neste momento, que a mais do que batida dicotomia cidade/campo se impõe e Santiago, até então “um qualquer”, revela-se um galã. Sim, até o momento estava lá seu tênis All Star e seu óculos Ray-Ban, mas é só agora que a persona indie do rapaz passa a imperar.

Se antes eram as músicas “alternativas” e as abelhinhas que forçavam um pouco a barra, agora o próprio personagem tornara-se ligeiramente desagradável. Ainda assim, Alem da Estrada continua inofensivo e simpático (sincero até, eu diria), o que, na atual conjuntura, já é alguma coisa.

Bruno Cursini

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