Medianeras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual
Medianeras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual (Medianeras, 2011), de Gustavo Taretto
Fica difícil entender o porquê da realização de alguns filmes. Não é o caso de Medianeiras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual. Muito pelo contrário. Qualquer patrocinador identifica, de imediato, no roteiro, o exato produto que ele tem em mãos e, mais importante, o público ao qual ele se destina. Logo de saída, na apresentação dos personagens, é dito absolutamente tudo o que Gustavo Taretto, diretor e roteirista do filme, tem (?) a dizer: a metrópole e a tecnologia – símbolos da contemporaneidade –, operam em desserviço às relações afetivas. E quando digo “dito” é isso mesmo, literalmente, pois eis aqui um filme no qual a imagem é mero acessório às sacadas do texto.
Martin e Mariana são dois jovens melancólicos, habitantes da capital portenha. Ele, um design de páginas de internet; ela, uma arquiteta. Moram em prédios vizinhos e são legítimas almas gêmeas: inteligentes, desamparados e, sobretudo, solitários. Obviamente, o caos do cotidiano em uma grande cidade vive de boicotar o amor entre os dois, que se esbarram aqui e acolá, nunca com tempo para se conhecer. Pouco resta ao espectador, a não ser aguardar pelo inevitável encontro (não adiantarei como este ocorre, mas não consigo pensar em uma maneira mais canhestra para isso).
Assim, Taretto trata como vítimas seus personagens principais e faz com que todo seu desenrolar dependa de suas tentativas frustradas na busca de significados às suas esmorecidas existências. Nada que por si só condenaria o filme ao fiasco que é, não fossem estes episódios tão pobremente elaborados: Martin, cuja única razão para sair de seu claustro doméstico é levar o cachorro de sua ex-namorada para passear, esboça um relacionamento com uma garota que não está a fim de um; Mariana, por sua vez, prefere estreitar seus laços com um manequim (de fibra, mesmo), escrevendo mensagens do tipo “como foi o seu dia hoje?” no lugar onde seria sua boca. Em um momento, ela mesma se vê como um manequim, em frente a uma loja de roupas. E trôpegos assim, prosseguem filme e personagens.
Sustentado por uma tese simplista e tola, abusando de referências ao mundo pop (Woody Allen, Guerra nas Estrelas, Astro boy, Onde Está Wally?), Medianeiras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual apela à identificação do espectador enrustido das piores sitcoms. Cita Jacques Tati; é Bruno Mazzeo.
Bruno Cursini
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