Crônica contra Hugo
Um pouco de amor pelo cinema brasileiro
Por Renata Saraceni
Morando atualmente em Sorocaba, participo de um grupo no facebook chamado “Por uma cinematografia de qualidade em Sorocaba”. Neste grupo manifestamos nossa vontade de poder assistir a tantos filmes que não chegam por aqui. Para minha gratíssima surpresa, o ótimo cinema do grupo Unibanco (Itaú) no Shopping Villágio se instalou em Sorocaba e trouxe, em sua “sessão cinéfila” o filme dirigido por Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim: A Música Segundo Tom Jobim. Por uma dessas sortes da vida, pude um dia sentar ao lado de Nelson Pereira dos Santos, em comemoração ao seu aniversário, quando ainda engatinhava no cinema. E Dora Jobim foi minha colega de trabalho no filme O Viajante, de Paulo Cezar Saraceni.
Que felicidade. Levada pela música, pelos intérpretes, pela montagem delicada, apropriada, verdadeira. Um filme apaixonado como deve ser. E nosso!
Para mais alegrias, abro o jornal local na semana seguinte e vejo A Separação, O Artista e A Invenção de Hugo Cabret. Como estava com meu filho de 11 anos, resolvi começar com o filme 3D de Martin Scorsese. Ah, que tristeza imensa que senti. Scorsese, o mesmo de Caminhos Perigosos, Taxi Driver, Touro Indomável. O mesmo que lutou para fazer seu cinema, que sonhou juntamente com tantos outros numa revolução do cinema americano.
Vi um filme empacotado para agradar público, crítica e levar estatuetas no Oscar. A homenagem a George Meliès chegou a me ofender. Submeter-nos assim aos propósitos dessa indústria porca? Contar a história dos primórdios usando os recursos levianos de Hollywood.
Fico um pouco indignada sim, quando vejo brasileiros do cinema falando maravilhas do filme.
Ora, sabemos exatamente o que essa indústria fez com o cinema. Sabemos que filmes desse porte custam uma fábula e para atender aos interesses do dinheiro ocupam nossas salas e tiram de nós toda a possibilidade de ir ao mercado. Isso não pode ser esquecido pela crítica.
Não dá para gostar de um filme que coloca tudo que amamos no cinema, ao mesmo tempo que utiliza este formato assassino representado por Hollywood.
Apesar disso, não falei para meu filho sobre isso tudo, deixo que ele possa sonhar, sem coragem para a realidade.
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Leia a crítica de Sérgio Alpendre para A Invenção de Hugo Cabret
Leia a crônica de Joel Yamaji sobre A Invenção de Hugo Cabret
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