Histórias Cruzadas
Histórias Cruzadas (The Help, 2011), de Tate Taylor
Histórias Cruzadas é um filme cujas pretensões são tão bem intencionadas quanto rarefeitas. Lidando com o tema da luta pelos direitos civis, no início dos anos 1960, o diretor Tate Taylor parte de uma questão particular – a solicitação feita pelas mulheres brancas de Jackson, no Mississipi, de um banheiro separado para suas empregadas domésticas, todas, evidentemente, negras –, para contar uma história compassiva sobre os absurdos do preconceito racial.
Taylor não está disposto a correr qualquer risco, e faz com que cada uma de suas personagens represente muito claramente uma única e inalterável figura: a engajada jovem, que irá acabar por publicar o livro com os relatos das trabalhadoras da cidade; sua amiga de infância e agora arqui-inimiga, espécie de líder das madames fúteis que governam tiranamente seus lares; a loira burra, de bom coração; a grandalhona e explosiva empregada, que cometerá, no final, a bem-vinda vingança que tirará do filme um pouco de sua controlada auto-probidade. Caso você já tenha lido o best-seller de Kathryn Stockett, ou visto as piadas na entrega do último Globo de Ouro, certamente já sabe do que se trata (na sala onde vi o filme, mal havia começado seu setup, alguns espectadores já não continham a risada).
Talvez a única personagem com alguma curva dramática relevante seja a mãe da futura autora; de partida, apenas mais uma leviana dona de casa – que havia, há pouco, cometido uma injustiça, em ordem de manter a aparência frente às amigas –, mas que acaba por ajudar sua filha, apoiando-a em sua nova empreitada, na cosmopolita e progressista Nova Iorque. Aliás, é lamentável que o receio de Taylor em tornar sua narrativa mais palatável tenha-o até mesmo feito insistir em um romance da garota, algo como que apenas para tirar do espectador qualquer interpretação homossexual sobre sua protagonista.
No mais, é justa a aclamação de todo o elenco, em particular de Viola Davis, comedida e sensível, trazendo ao filme uma camada de genuína dor, como a primeira doméstica que topa contar seus casos à jornalista, ainda convalescente com a perda de seu filho, também vitimado pelo racismo. Das outras mulheres, ficamos apenas com anedotas, alternadamente engraçadas e comoventes; algumas eficazes, outras nem de longe.
Bruno Cursini
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