Millennium
Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres (The Girl with the Dragon Tattoo, 2011), de David Fincher
Antes de perder tempo comparando qual é melhor – o original sueco ou a refilmagem hollywoodiana –, é mais interessante enveredar por outro aspecto de Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres: o ruído entre o mundo de ontem e o mundo de hoje.
Nesse filme de ação e mistério (ora agudo, ora assustador), há duas maneiras de desvendar um mistério: o da dedução lógica , com contato tête-à-tête, e o ultratecnológico. Por trás dos efeitos constantes de Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres e do jogo de xadrez cadavérico que o jornalista Mikael (Daniel Craig, fraco como de costume) e Lisbeth (Rooney Mara, muito interessante) tentam compreender, existe o confronto entre métodos de investigação.
Mikael (Craig) está mais próximo da velha guarda: o cruzamento de fatos, observação atenta, dedução, conversas e olho no olho. Lisbeth (Rooney) é do computador, do hackerismo, dos bastidores. Charmoso, mesmo com sua figura destroçada por acusações infundadas, ele mantém a postura. Ela se esconde por trás de tatuagens, brincos, roupas, pinturas – carregando um passado complicado e um presente assombroso nas costas.
Os dois estilos distintos vão se unir para desvendar o misterioso desaparecimento de Harriet, a sobrinha de um magnata industrial da Suécia (Christopher Plummer, indicado ao Oscar por Toda Forma de Amor). Na jornada, Mikael e Lisbeth entram num mundo de perversões e segredos trancados em porões inacessíveis. No jogo de xadrez, terão a ajuda de Martin (Stellan Skarsgård) e Frode (Steven Berkoff).
Como filme de resolução de mistério, Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres é eficiente, mesmo enveredando para uma desnecessária subtrama de romance. Porém, o mais interessante continua sendo pensar que nele está em jogo um tipo de cinema num gênero tão tradicional quanto o filme de mistério.
Basta pensar na postura classuda, calculista e soberba de O Espião que Sabia Demais comparada ao jeitão high tech de Millennium. Não apenas nos métodos de hacker da personagem de Rooney Mara, mas na própria feitura do filme, seja na direção de Fincher (vale lembrar dos créditos de abertura) e na trilha eletrônica composta pelos parceiros constantes Trent Reznor e Atticus Ross.
Millennium não deixa de ser um diálogo de estilo que Fincher trava com seu filme anterior, o superior A Rede Social: a tecnologia e a virtualidade continuam no centro da feitura do longa.
Heitor Augusto
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Millennium, por Luiz Carlos Oliveira Jr.
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