Ano VII

O Pai dos Meus Filhos

segunda-feira jan 23, 2012

O Pai dos Meus Filhos (Le Père de mes Enfants, 2009), de Mia Hansen-Love

Na curta obra de Mia Hansen-Løve, o cinema existe para refletir sobre o amadurecimento, seja o de uma menina de 11 anos ou de uma adulta de 40. Se em Adeus, Primeiro Amor a diretora falou da transformação de uma adolescente em mulher, com O Pai dos Meus Filhos o aprendizado atravessa quatro personagens de diferentes idades. Todos da mesma família, compartilhando as mesmas dores e alegrias.

Apesar de o público brasileiro provavelmente ter conhecido Adeus, Primeiro Amor, que estreou em 16 de dezembro, O Pai dos Meus Filhos é anterior: produzido em 2009, premiado naquele ano no Festival de Cannes e exibido na mostra Expectativa do Festival do Rio.

O que não deixa de ser curioso, pois O Pai dos Meus Filhos não só é ligeiramente melhor do que o longa posterior, mas também demonstra mais segurança na realização. Menos didatismo, mais confiança na encenação como o elemento singular da narrativa cinematográfica. O que ambos dividem é a qualidade dos atores e a ternura da história.

O núcleo da trama é a família Canvel. Grégoire (Louis-Do de Lencquesaing, o pintor de L’Apollonide – Os Amores da Casa de Tolerância) é um produtor de cinema que se equilibra as dívidas conquistando os credores e parceiros. Sylvia (Chiara Caselli) é a esposa que discretamente administra as emoções da família. O casal tem três filhas adoráveis: a divertida caçula Billie (Manelle Driss), a questionadora Valentine (Alice Gautier) e a adolescente Clémence (Alice de Lencquesaing).

Aquele mundo de carinho e ternura que acompanhamos na primeira parte do filme, porém, é um castelo de areia. Não que a família que Mia Hansen-Løve nos apresenta seja um engodo, mas a dúvida está no pai. É quando seus demônios – a insegurança do mundo adulto, o peso das escolhas e o enfrentamento da austeridade de seu patriarca – entram no jogo que o filme toma outros rumos. E que rumos.

Nessas situações, tem-se a sensação de que ser um bom pai nem sempre é suficiente. Nem ser um bom marido. Sem explorações sentimentaloides, o filme deixa aquele ponto de interrogação invisível: o que fazer quando fica impossível carregar o peso? O personagem de Grégoire é quem traz a pergunta. A resposta, caso nos interesse, está no restante da família.

Justapostos, esses dois filmes demonstram uma postura frente ao mundo que, podemos deduzir, vai acompanhar o restante da carreira de Mia Hansen-Løve: apesar de todas as dores, a vida continua. Afinal, não é esse desejo de continuar que nos faz amadurecer aos trancos trazidos pela vida? É explícita e coerente a conversa entre o plano final de Adeus, Primeiro Amor e o de O Pai dos Meus Filhos.

Dois filmes em que a delicadeza e a ternura não se fazem ausentes, mesmo com as sequelas da frustração ou da perda. Mia parece estar disposta a dar saltos rasantes rumo ao desconhecido na realização de seus filmes. Segura e focada apenas em contar uma boa história.

É possível e provável que, daqui em diante, seus filmes sejam facilmente reconhecíveis: atores bons e de bem com os personagens, elipses a eliminar explicações desnecessárias, eventos que permitem o amadurecimento.

Às vezes ingênuo em suas lições de moral (mãe e filha passando por diferente situações de crescimento), mas ainda assim carinhoso. O Pai dos Meus Filhos é como um ombro à nossa espera quando é preciso baixar a guarda. Um gesto de fraternidade.

Heitor Augusto

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