Pateta fez e faz história
Embora hoje seja considerado um dos três personagens principais dos estúdios Disney, junto com Mickey e Donald, Pateta era odiado por Walt Disney. Um personagem bobo, apenas fazedor de besteiras sem sentido.
Nos anos 40 e 50, o criador do estúdio que leva seu nome cogitava constantemente paralisar a produção dos curtas estrelados pelo personagem. Só não o fazia para manter seus desenhistas ocupados no abalo do pós-Segunda Guerra, quando o estúdio entrou em declínio. A informação consta na biografia de Disney, escrita por Neal Gabler, lançada no Brasil em 2009 pela Novo Século.
Nos quadrinhos não era diferente. Personagem de primeira linha, mas que não alcançava status para histórias ou publicações próprias, mesmo em sua terra natal. Tal fato mudaria apenas nos anos 70. A Western Publishing, então licenciada nos Estados Unidos para desenvolver, imprimir e exportar aventuras da Disney, não estava dando conta da demanda e passou a contratar estúdios para o trabalho. O estúdio do animador e quadrinista argentino Jaime Diaz foi um deles.
O principal trabalho conduzido por ele foi a criação da série “Pateta Faz História”. Ao todo, foram 38 episódios produzidos em duas fases: 17 na década de 70 e outros 21 nos anos 80. Protagonizadas por Pateta, as paródias biográficas não procuram ser deveras fiéis à realidade ou aos personagens da literatura clássica.
Um exemplo é a criação do processo de pasteurização, descoberta do químico francês Louis Pasteur (1822 – 1895). Nos quadrinhos, Pasteur, vivido por Pateta, incendeia mansões e depois toda a Paris para eliminar os micro-organismos existentes no leite.
Outra ferramenta bastante utilizada ao longo da série é a metalinguagem. Em Ulisses, temendo que a história se perdesse, um personagem começa a erguer placas para que Pateta as lesse, como se fossem suas falas. Ao ser indagado por Mickey, o personagem apenas comenta: “Alguém tem que fazer alguma coisa pra tocar esta história para a frente”.
Embora produzidas pelo mesmo estúdio e com praticamente os mesmos artistas, as aventuras dos anos 70 apresentam diferenças em relação às dos anos 80. A primeira série ousava bastante da diagramação das páginas, que tinham como base três tiras cada. Uma mostra clara dessa liberdade gráfica é a página que abre “Tutancâmon”, reproduzida ao lado.
A segunda fase apresenta uma estrutura conservadora, com quatro tiras por página e diagramação mais tradicional. A diferença deve-se à mudança de roteiristas de uma década para outra. Os roteiros eram enviados pelo estúdio Disney dos Estados Unidos, o que obrigava os artistas argentinos a serem bastante fiéis à proposta original. Logo a mudança de direção dos roteiros provocou uma mudança também nos desenhos.
Disney em alta no Brasil
“Pateta Faz História” é um bom divertimento não apenas para os fãs de quadrinhos, mas também para os amantes de boas sátiras e comédias. Além disso, a série, recém-concluída, revela o bom momento vivido pela Editora Abril com os quadrinhos Disney no Brasil.
A compilação desta saga – dividida em 20 volumes, sendo a última edição composta por “Teatro Disney”, que foi a primeira série a usar os personagens Disney como atores e teria dado origem a “Pateta Faz História” – dá-se logo após outra, “Clássicos da Literatura Disney”, com 40 edições lançadas semanalmente entre 2010 e 2011.
Antes, a editora já havia lançado “O Melhor da Disney: As Obras Completas de Carl Barks”, com 41 edições publicadas entre 2004 e 2008.
A saga atual evidencia este bom momento – junto com a volta das assinaturas e da distribuição nacional. E o sucesso deve continuar, tanto que para 2012 a Abril já promete uma nova saga semanal para o segundo semestre, além de especiais que incluem um tijolão de 500 páginas chamado “Disney Jumbo”.
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Tiago Souza é jornalista e pesquisador especializado em quadrinhos, literatura, economia e política. Variedade de interesses é com ele mesmo.
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