Românticos Anônimos
Românticos Anônimos (Les Emotifs Anonymes, 2010), de Jean-Pierre Améris
A começar pelo título, Românticos Anônimos tem, como maior mérito, não esconder o fato de ser um desses (sub)produtos franceses, para consumo de massa, exibidos em salas de cinema supostamente voltadas ao público do cinema dito “de arte”. É aquela coisa: fosse uma produção americana (ou até mesmo brasileira, diga-se), poucos dos espectadores que se divertiam durante a sessão do filme de Jean-Pierre Améris – em uma sala com os assentos quase todos ocupados -, se dariam ao trabalho de irem ao cinema rever, pela centésima vez, uma comédia romântica agridoce, ancorada por tipos excêntricos e contada em um manjado tom fabular.
A diferença essencial desta produção francesa para outras incontáveis similares (feitas na Argentina ou no Irã, tanto faz), é sua aparente autoconsciência de irritabilidade: com apenas 80 minutos de duração, Améris torna suas personagens unidimensionais mais aceitáveis, e seus pequenos conflitos existências, comicamente mais eficazes. É como se o diretor tivesse optado por focalizar toda a sua história naquela parte arrastada do segundo ato dos filmes do gênero, quando o casal vê a felicidade de seu futuro ameaçada por forças externas. Em Românticos Anônimos, tal momento é potencializado pela supressão de antagonistas: só o que impede o júbilo eterno e inabalável do casal é a própria insegurança emocional dos enamorados.
E é com essa mensagem (“seu pior inimigo é você”) que somos apresentados a Angélique (Isabelle Carré) e Jean-René (Benoit Poelvoorde), dois sujeitos incorrigivelmente problemáticos: dela, só conhecemos seus dilemas através dos encontros com os tais “românticos anônimos”, um grupo de seres emotivos ao extremo, incapazes de estabelecerem quaisquer relações intersubjetivas; dele, nos familiarizamos com seus incômodos psicológicos pelas mais tradicionais sessões de análise, nas quais até mesmo seu especializado interlocutor parece intrigado pelos manias de seu paciente.
Jean-René é o dono de uma fábrica de chocolate que, quase falido, contrata Angélique como vendedora. O detalhe é que ela é uma confeiteira de grande talento, só desconhecida por sua patológica timidez. Logo se apaixonam, mas, evidentemente, seus próprios receios os impedem de fortalecerem a relação.
Somando ao salutar comedimento do diretor, está o elenco, particularmente Isabelle Carré e Benoit Poelvoorde, sem os quais Românticos Anônimos surgiria tão nulo e ineficaz quanto seu breve resumo acima sugere. Surpreendentemente, é apenas agradavelmente descartável.
Bruno Cursini
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