Tudo pelo Poder
Tudo pelo Poder (The Ides of March, 2011), de George Clooney
Quarta investida de George Clooney como realizador, Tudo pelo Poder revela mais uma vez certa predileção pelas engrenagens de temas maiores aos norte-americanos. E, ao contrário do que poderia se imaginar, essas obras acabam se apresentando bastante universais porque concentram a dramaturgia em microcosmos mais acessíveis.
Afinal, os bastidores da eleição de um candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, a princípio, não seria uma temática que despertaria grande interesse do lado de fora da América. Assim como o macarthismo é recolhido ao embate de um apresentador de tevê em Boa Noite e Boa Sorte, em Tudo pelo Poder o jogo político é centralizado na ascensão de um coordenador de campanha envolto em uma rede de intrigas.
Porém, em plena época de desilusão com Barack Obama, o filme de Clooney vacila entre o drama pessoal e a necessidade de refletir sobre o momento político ianque. Ao apresentar denúncias nunca mais que ingênuas, o filme acaba se limitando a uma superficialidade que nunca faz jus ao potencial explosivo da matéria em questão, apesar de um recorrente cinismo tentar camuflar eventuais deslizes narrativos.
Cairá sobre o filme também a pecha de anacrônico, mas toda a carreira de Clooney tem como característica essa busca do passado, desde Confissões de uma Mente Perigosa. Aqui há bastante aproximação com os dramas políticos de quarenta anos atrás, como O Candidato e Todos os Homens do Presidente, seja na forma de decupar, seja na sobriedade da fotografia de Phedon Papamichael.
O título original, “os idos de março”, é uma referência explícita à tragédia shakespeariana Julius Cesar, na qual seria a época que representaria perigos à vida do personagem homônimo à peça. Se no texto Cesar é morto por seu filho Brutus, em Tudo pelo Poder é o personagem do próprio Clooney, um governador em vias de se tornar candidato a presidente, quem tem de lidar com turbulências provocadas por um dos seus subordinados. Subordinado interpretado pelo sempre ótimo Ryan Gosling, o verdadeiro protagonista do filme, um promissor gerente de campanha que é envolto numa conspiração tramada por um político adversário (Paul Giamatti) e que se complica ao se envolver com uma estagiária (Evan Rachel Wood) que parece saída diretamente da Casa Branca da Era Clinton.
Tudo pelo Poder não é leviano. Mas é pouco pelo que prometia ser.
Andy Malafaya
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