Ano VII

Adeus, Primeiro Amor

segunda-feira jan 2, 2012

Adeus, Primeiro Amor (Un Amour de Jeunesse, 2010), de Mia Hansen-Love

A imagem final de Adeus, Primeiro Amor é a de um rio cuja correnteza se dirige para o limite de cima da tela. A letra da canção de fundo é desnecessária para que entendamos o que a diretora quer dizer: que a vida segue, que a fila anda, que precisamos virar a página, ou qualquer outra frase usada nestes dias. É um tanto diferente do plano final de Deus Sabe Quanto Amei (Vincente Minnelli, 1958), em que a câmera deixa o protagonista Frank Sinatra e seu amigo Dean Martin para trás e concentra-se no rio que corre para fora do quadro, apesar de simbolizar coisas semelhantes. Na obra-prima de Minnelli, os personagens são deixados em suspenso. Sinatra tem a professora por quem se apaixonou a poucos metros dele. Haverá um encontro ou cada um vai errar para o seu lado?

No delicado filme de Mia Hansen-Love, vemos a superação do trauma amoroso por uma relação que durou oito anos (com grandes intervalos de separação). Aqui não se trata de um amor proibido, mas de uma relação de juventude que não sobreviveu à passagem do tempo.

Apesar das elipses serem quase radicais, causando lacunas no tempo (lacunas mais ou menos paralelas às separações dos jovens), existe uma preocupação didática, já que percebemos a inclusão de algumas inscrições de datas que aparecem eventualmente (no cabeçalho de uma carta, num calendário, na lousa de uma sala de aula). Dessa maneira, o espectador fica sabendo quantos anos se passaram e não precisa esperar por alguma pista que indique os saltos temporais.

Camille (vivida pela adorável Lola Créton) é uma adolescente que se torna adulta num difícil processo de esquecimento, com idas e vindas, novas experiências e descobertas. Sua vocação para a arquitetura é mostrada pelo filme de uma maneira cuidadosa. Afinal, é esse amor, em primeiro lugar, que permite que ela sinta vontade de viver, apesar do trauma amoroso. Depois, há um professor atencioso, entidade paternal salvadora para jovens perdidas. Ele fornece a base que ela precisa para seguir em frente. Não importa se existe um verdadeiro amor entre os dois. Há cumplicidade, carinho e compreensão.

A força de Adeus, Primeiro Amor vem das atuações, sobretudo a de Lola Créton, e do precioso retrato do processo de maturidade de sua personagem, dos 14 aos 22 anos. Créton tinha 17 anos quando o filme foi feito, o que permite que ela interprete tanto uma adolescente sonhadora quanto uma jovem amadurecida, possibilitando que acompanhemos tal processo sem que haja uma mudança física sensível na personagem (para além dos diferentes cortes de cabelo).

O filme cresce nos momentos em que ela está bem, em que as possibilidades da vida se apresentam sem disfarces para ela. Torcemos o tempo todo para que ela abrace essa vida e desperte de vez para um novo mundo, livre daquele primeiro amor de juventude.

Sérgio Alpendre

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