Movember – O mês do bigode
Texto e fotos: Marco Estrella
Após escapar dos ares corporativos, livre da necessidade de manter as madeixas cortadas e a barba feita – já que não frequento mais o padronizado ambiente dos escritórios –, experimento as liberdades “cabelistas” desde que cheguei à Austrália, e a rebeldia da barba por fazer, além da economia de não precisar cortar o cabelo.
Logo no primeiro mês aqui experimentei, pela primeira vez, a sensação de ficar apenas de bigode. Devo confessar, o resultado foi muito aquém do aceitável – falando em português claro, ficou “zuado” demais. No entanto, me avisaram que, durante o mês de novembro, a vítima de tanto sarro ainda seria motivo de orgulho.
Setembro de 2011, sete meses após a primeira e frustrante experiência, só pensava no prometido renascimento do meu bigode. Ele estava ali – mimetizado – no ponto central da minha barba que crescia livremente.
Primeiro de novembro: tirei a barba, deixei apenas o personagem principal do mês e comecei “Movember” com um belo Mo (apelido em inglês carinhoso para o bigode, abreviação de moustache).
Mas o que é o Movember? Continue a ler para descobrir…
Saí de casa crente que encontraria todos os homens de bigodes, mas, para minha surpresa, só encontrei barbas feitas e caras lisinhas. Tal e qual um guerreiro solitário, um defensor ocasional, pensei: “A brincadeira já não está mais na moda. A onda retrô do cultivo ao bigode terá passado?”.
Mesmo lamentando a falta de espirito esportivo dos australianos, eu estava orgulhoso; todos comentavam sobre o meu bigode, impressionados com o tamanho e consistência. Após uma semana, e ainda sem entender a o certo por que todos decidiram não “brincar” bem no ano em que estou por aqui, resolvi pedir ajuda ao oráculo Google sobre o tal Movember, para entender um pouco mais do que se trata.
Freddie Mercurys do bem
Achei a página oficial dos bigodudos. Descobri que Movember não é apenas um trocadilho com as palavras Moustache e November; os bigodes tinham funções claras e específicas: chamar atenção para a necessidade do homem ser mais cuidadoso e atento com a sua saúde, e arrecadar fundos para associações que tratam principalmente do câncer de próstata e depressão. Além disso, entendi que existia um processo a ser seguido: fazer a barba no dia primeiro, cultivar o querido “Mo” pelo mês inteiro e, no final do mês, celebrar junto com os Mo Bros e Mo Sistas em festas de gala espalhadas pelo mundo.
O movimento incentiva a produção de vídeos, fotos, arte e qualquer outro meio que cite a questão da necessidade de abandonarmos valores machistas e retrógrados e começarmos a cuidar da nossa saúde, entendendo sintomas, consequências e formas de tratamento para algumas das doenças que mais acometem os homens. Apesar de ser algo relativamente novo, a primeira edição do Movember foi em 2003, contando com apenas 30 bigodudos. E continua em 2011, com um crescimento exponencial tanto no número de participantes como no dinheiro arrecadado.
Imponente!
Resumo da ópera: Queimei a largada, mas nada de desqualificação ou punição por isso. O que mais importava era o manter o bigode e levantar grana.
Fiquei feliz quando comecei a ver os tais pêlos faciais entre o nariz e o lábio inferior sendo protagonistas nas ruas, nos cafés; uns inspirados em Dali, outros em Chaplin, passando pelos bigodes daqueles em que a barba começa a surgir, e chegando aos bigodes clássicos dos encanadores Mario e Luigi.
Meu bigode deixou de ser chacota e ganhou respeito. Um bigode imponente! Fui parado algumas vezes na rua para receber elogios sobre o querido companheiro e cheguei a ganhar dinheiro como garoto propaganda da campanha – infelizmente não o suficiente para garantir minha entrada na festa de gala do dia 30 de novembro (celebrações em todas as cidades participantes, que encerram a temporada com todos os Mo Bros e Mo Sistas que arrecadaram mais de AU$ 100), mas fiquei satisfeito com a performance no meu primeiro Movember.
Soa como algo belo e altruísta, e de fato é, mas confesso que, no dia 30 de novembro, com um bigode cuidadosamente cultivado durante dois meses, não via a hora de cortar, não aguentava mais ver o meu bigode tingido pelas cores dos alimentos ingeridos, não suportava mais senti-lo querendo dominar meus lábios – além da minha mulher já estar louca de saudade de me beijar sem sentir a paixão que meu bigode tinha pela sua boca.
Cara lisa, de bem com a vida, mas esperando o próximo novembro em nome de uma boa causa!
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Marco Estrella é fotógrafo, escritor, amigo de muitos amigos e, de vez em quando, dono de um senhor bigode.
Fale com ele: estrella.marco@gmail.com
E leia o blog: www.circulando.tur.br
*O Movember foi lançado em 2003 na Austrália com apenas 30 participantes. Em 2004, a ideia inicial evoluiu e gerou a criação do The Movember Group (responsável pelo gerenciamento do projeto). No ano de 2005, a campanha ultrapassou a barreira do milhão de dólares arrecadado. E, em 2006, recebeu a chancela do governo australiano para filantropia, chegando à Nova Zelândia. Canadá, Espanha, Reino Unido e EUA aderiram à campanha em 2007. Um ano mais tarde, já eram mais de 170 mil participantes arrecadando quase AU$ 30 milhões, e a Irlanda também entrando na campanha dos bigodes. Em 2009, entraram para o Movember: a República Tcheca, a Finlândia, a Holanda e a África do Sul. Em 2010, foram arrecadados mais de AU$ 70 milhões e, com mais de 400 milhões de Mo Bros e Mo Sistas cadastrados . Apesar do relatório oficial dessa temporada ainda não ter sido divulgado, sabe-se que essa foi a melhor campanha de todos os tempos, com mais de 850 mil bigodudos(as).
As doações são repassadas às instituições e fundações ligadas ao tratamento do câncer, apoio aos pacientes e a pesquisas.
Para participar é simples:
Cadastre-se no site – http://au.movember.com/
Conecte-se com seus amigos e amigas, criando grupos.
No dia primeiro de novembro, os homens fazem a barba e deixam o bigode crescer, demonstrando sua preocupação com a saúde masculina.
Os participantes arrecadam dinheiro das pessoas e empresas que podem abater os valores doados em impostos.
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