Um Dia
Um Dia (One Day, 2011), de Lone Scherfig
A eterna discussão a respeito das adaptações literárias para o cinema deveria ganhar um capítulo a parte com este Um Dia, novo filme da dinamarquesa Lone Scherfig, que se insere na longa tradição dos romances aparentemente impossíveis de Hollywood.
Não dá para não ficar rememorando o clássico de Leo McCarey, Tarde Demais para Esquecer, enquanto os personagens de Anne Hathaway e Jim Sturgess se paqueram por duas décadas à espera de um final feliz. Mas enquanto o filme estrelado por Cary Grant e Deborah Kerr é pautado pela condução discreta de McCarey, Um Dia pena com sua estrutura canhestra.
Claro que descrever um dia específico por duas décadas na vida de um casal em um romance é tarefa muito mais confortável que condensar isso em duas horas de cinema – tarefa que coube a David Nicholls, também autor do livro. Porém, cinematograficamente, a opção pela divisão em capítulos não funciona, tornando o filme arrastado, monótono e por vezes irritante. Cada dia se torna uma eternidade, com o perdão do trocadilho.
O roteiro, ao invés de criar enlaces entre uma passagem de tempo e outra, prefere o corte temporal abrupto, pulando de ano em ano e deixando nas mãos de Scherfig a responsabilidade de criar uma unidade que nunca é alcançada. A cineasta, que já demonstrara talento em filmes como Italiano Para Principiantes e Educação, é claudicante na condução, sem encontrar o tom certo para a trama e sendo infeliz até mesmo na condução dos atores, principalmente na de Jim Sturgess, descontrolado em cena.
Não obstante, todos os chavões do cinema manipulador estão lá: a trilha melosa e insistente (a cargo de Rachel Portman), os planos banhados em luz cintilante, a personagem em estágio terminal, o desfecho imprevisível e os inevitáveis flashbacks. Não deixe de levar o lencinho ou a paciência.
Andy Malafaya
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