Os Especialistas

Os Especialistas (Killer Elite, 2011), de Gary McKendry

Os Especialistas sustenta-se (com auxílio de muletas), unicamente pelos atores. Temos Jason Statham, Robert De Niro e Clive Owen como assassinos profissionais que não percebem “the big picture”, para lembrarmos de uma das falas mais importantes do filme. São manipulados com imensa facilidade, em nome da ação e do talento para matar.

Um outro filme, talvez mais interessante, poderia ser feito como um negativo deste. Staham é chamado de volta à ativa porque seu parceiro e amigo foi capturado. Seria libertado caso ele fizesse um favorzinho a um poderoso sheik de Omã: matar os três assassinos de seus filhos e conseguir deles uma confissão gravada. O último assassinato dá uma pista do que poderia ser esse outro filme em negativo: todas as mortes seriam falsificadas, já que estão todos os assassinos no mesmo barco. Mas aí não teríamos ação, teríamos farsa, e farsas, por mais inteligentes que sejam, não vendem mais hoje em dia.

Uma coisa é certa. Se os atores impedem que Os Especialistas seja um desastre é porque mesmo com a direção pirotécnica e confusa de McKendry é possível perceber suas interpretações, os resquícios de alguma construção que o carisma desses atores permite acrescentar à narrativa. Se dependesse de McKendry, teríamos só a inverossimilhança estragada por encaminhamentos bobocas e situações improváveis. Porque mesmo dentro de um registro todo improvável é necessário que alguma coisa tenha coerência.

Em Os Especialistas, a única coisa que mantém certa coerência é a indigência da câmera, que trabalha muito mal com mudanças de eixo e com a movimentação dos personagens, além de captar tudo de muito perto, o que a obriga a se tornar uma câmera-cachorro, guiada mecanicamente por cada objeto alcançado pela mão de um dos personagens. E quando temos câmera-cachorro, temos a ausência de um ponto de vista. Ou, se preferirem, a ausência de direção.

Sérgio Alpendre