Amanhecer
A Saga Crepúsculo – Amanhecer: Parte 1 (The Twilight Saga – Breaking Dawn: Part 1), de Bill Condon
Além de forte contenedor na acirrada corrida dos piores filmes do ano, A Saga Crepúsculo – Amanhecer: Parte 1 é certamente o mais conservador e o que, dado o fervor cego de seus fãs, menos deixa espaço para uma problematização minimamente séria em torno de seus valores e (falta de) qualidade cinematográfica.
Amanhecer é a favor do celibato e da execução dos bandidos e contrário ao aborto. O prazer só é permitido se acompanhado de dor e culpa. O casamento, repleto de floreios e exageros, é celebrado como a instituição máxima do respeito ao ser humano – ou seja, idealizado.
É interessante observar como uma fábula supostamente atemporal (a determinação para viver um amor impossível dada a diferente natureza dos amantes, humana e vampiro) reflete o conservadorismo do hoje.
Irregular, a franquia tem filmes que vão do ruim ao medonho. Crepúsculo reintroduziu a figura do vampiro manso e assexuado. Lua Nova achou-se o grande romance da contemporaneidade. Eclipse decidiu não se levar a sério. Amanhecer é a picaretagem assumida: Bill Condon (Sobre Deuses e Monstros, Kinsey, Dreamgirls) narra em duas horas o que um realizador hábil resolveria com alguns planos bem construídos, diálogos e elipses.
Sequências de videolipes, ar pomposo e engessado, barrigas no roteiro, trilha irritantemente presente, e interpretações fracas são coroadas com a cereja do bolo: a sequência na carioca Lapa, passagem à Bollywood regada a um sambinha paraguaio.
Ataranta pensar que são aos valores da Saga Crepúsculo, que tem em Amanhecer sua pior e mais conservadora faceta, que os jovens aspiram no Século 21. Voltamos à Idade Média.
Heitor Augusto
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