O Palhaço
O Palhaço (2011), de Selton Mello
Selton Mello errou bonito em sua estreia, Feliz Natal. Aquele personagem patético do ótimo Leonardo Medeiros puxa o filme para baixo, e tem um desfecho vergonhoso. Neste segundo longa, resolveu fazer algo mais feijão com arroz, deixando que os atores (incluindo ele, como o protagonista) carregassem a história. Tarantinamente, recupera atores esquecidos como Jorge Loredo, Moacyr Franco e Ferrugem, além de proporcionar a Paulo José uma interpretação e tanto. Não é pouco.
O Palhaço está longe do Palhaços de Fellini. Mais longe ainda de A Estrada. Está mais perto, como alguém já disse, de Mazzaropi, na valorização do homem do interior, no retrato das pequenas cidades, com seus prefeitos bonachões e mulheres embevecidas, e na simplicidade de sua trama.
Dessa simplicidade surgem algumas bobeiras, como a fixação por um ventilador (apesar de que há ao menos duas gags interessantes por causa dessa fixação), ou no exagero do retrato do palhaço como um homem desprovido de inteligência (quando poderia ser, simplesmente, ingênuo).
Curiosamente, revi Bronco Billy, o belo filme em que Eastwood trabalha com o mesmo tipo de simplicidade, no qual ele interpreta um homem simples, um vendedor de sapatos que resolve ganhar a vida como um cowboy de mentira num circo mambembe e sempre ameaçado de falir. Será que Selton Mello viu o filme de Eastwood? Não sei, não li suas entrevistas e não lembro de alguém ter feito essa ponte. Mas ambos se parecem em muitos aspectos. Tal referência poderia ter feito bem a O Palhaço.
De todo modo, com ou sem referências, é um filme que flui com leveza, tem alguns planos bonitos (como o desfile da princesinha no final) e mostra o progresso de um diretor em início de carreira, o que é sempre bem-vindo.
Sérgio Alpendre
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