Inquietos

Inquietos (Restless, 2011), de Gus Van Sant

Gus Van Sant sempre pareceu ter mais interesse na controvérsia que no resultado de seus próprios filmes. Percorrendo sua carreira, é fácil perceber certas escolhas motivadas por ambições muito além de questões fílmicas, mesmo em produções mais convencionais, como em seu último filme, Milk – A Voz da Igualdade.

Fica difícil entender, portanto, o porquê dele ter aceitado dirigir este Inquietos, projeto que saiu do papel graças ao esforço da atriz Bryce Dallas Howard, que incentivou Jason Lew, seu amigo de faculdade, a transformar o rascunho de uma peça teatral em roteiro de cinema.

Inquietos não era material para Van Sant, e sim para algum diretor-artesão qualquer. Restless (no original) não tem energia, não tem frescor, não tem nenhum interesse em ser algo além de um arremedo careta de Ensina-me a Viver, filme do Hal Ashby que merecia ser mais saboreado nos dias de hoje.

A historinha de dois adolescentes desajustados (Henry Hooper, filho de Dennis Hooper, e Mia Wasikowska, que não comprometem) que têm como hobby visitar funerais poderia criar possibilidades mil de desenvolvimento, mas acaba se enveredando pelos perpétuos cacoetes dos dramalhões românticos, embrulhados em embalagem indie.

Van Sant emoldura tudo com natural habilidade cênica, mas ao deixar os diálogos fluírem em planos mais longos, evidencia ainda mais o texto paupérrimo. O seu maior acerto é o de trazer as cores e as formas naturais da cidade de Portland, cenário recorrente de sua filmografia, pra dentro do quadro, sejam em planos exteriores, sejam em grandes janelas que emolduram os ambientes internos, em fotografia competente de Harris Savides, parceiro de longa data do diretor.

Inquietos pode até satisfazer certa parcela do público por se apresentar de forma serena e linear, mas pode significar uma acomodação perigosa para quem esteve sempre disposto a comprar brigas.

Andy Malafaya