Ano VII

O Garoto da Bicicleta

quarta-feira nov 30, 2011

O Garoto de Bicicleta (Le Gamin au Vélo, 2011), de Jean-Pierre e Luc Dardenne

Peter Greenaway, James Ivory, Tsai Ming-liang, Giuseppe Tornatore, Spike Lee. Outrora habitués dos grandes festivais, premiados ao redor do mundo, apontados como referências do cinema contemporâneo, e posteriormente reféns de seus próprios estilos. Uns, como Ivory, estão esquecidos. Outros tentaram se reinventar, como Ming-liang, que foi para a França rodar o radical Face, não obteve sucesso e nunca mais filmou.

Os irmãos Dardenne se viram nessa arapuca ao perceber a fraca recepção a O Silêncio de Lorna, que já apresentava um evidente esgotamento temático-estilístico. O Garoto de Bicicleta surge então como resposta, um esforço em trazer novos elementos para a narrativa, mas em uma transição mais suave, de forma a manter as características que os consolidaram como auteurs.

O Garoto de Bicicleta se apresenta quase como uma sequência direta de A Criança, ao colocar novamente um menino renegado pelo pai – que em ambos os filmes é interpretado pelo ator Jérémie Renier. O desenvolvimento narrativo segue a característica dos filmes dos cineastas, guiado pela ação e evitando a todo custo qualquer psicologismo dos personagens.

Há um esforço claro em dar menos espaço para o cinismo e assim abrir brechas para um filme mais solar, menos pessimista. E a entrada em cena de Cécile De France, como uma cabeleireira que adota o garoto (o estreante Thomas Doret), traz a doçura irresistível de sempre.

A reboque dessa mudança de tom segue a fotografia, mais viva e colorida do que nunca, onde verdes e vermelhos se sobressaem. Também a decupagem se torna menos tensa do que o usual, com maior respiro e planos mais abertos. Causa um certo estranhamento para quem acompanha a carreira dos cineastas, mas nada comparável à desconcertante música que divide o filme em atos.

É claro que o mundo dos Dardenne continua sendo cruel, cheio de amargor, trapaças e seres desiludidos. Mas, desta vez, há também espaço para mudanças. Para os personagens e para os irmãos realizadores.

Andy Malafaya

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