Brasil pandeiro?
Texto: Bruna Pestana Bezerra
Meu nome é Bruna Pestana Bezerra e vou compartilhar esse meu “quartinho cultural”.
Falando nisso, o que é cultura? Não são apenas livros, filmes, peças e quadros, mas também valores. Portanto, trataremos aqui de tudo aquilo que é atual, comportamental e cultural, ou não…
Algo que vem me intrigando há algum tempo é uma visão distorcida que o exterior possui da nossa cultura – sendo que a verdadeira é linda, diga-se – e que estimulamos que seja tomada como verdade.
Há pouco foi lançado o tão aguardado Velozes e Furiosos 5 – Operação Rio, gravado no Brasil com um elenco estupendo – nossa, que honra!… Talvez fosse mesmo, se a visão que o filme tem – e que a cada dia mais se compra – não fosse a de que o País, especialmente o Rio de Janeiro, é um mosaico de favelas, crime, violência, mulheres bonitas e ignorância.
Este é o tipo de imagem que me irrita profundamente, não por patriotismo ou falso sentimento nacionalista, mas porque sou brasileira e não dá para me enquadrar neste contexto.
Olhando de perto, até a animação Rio (2011) manifesta uma combinação de crimes brasileiros com comércio ilegal de animais, miséria nas favelas e todos sambando – até as araras –, como se só existisse isso por aqui.
Já tem até turismo para ver favela em vez de uma tour por nossa cultura e criação. Mas é para aqueles que ainda têm coragem de vir depois que o filme Turistas (2006) nos retratou como ladrões e psicóticos.
Pouco ouço dizer que um gringo tenha ido ao Rio conhecer a gigantesca Biblioteca Estadual ou visitar suas dezenas de museus e teatros que reportam nossa história – já que a cidade do samba também é o polo cultural do Brasil. Ou ainda que tenha vindo pesquisar as origens do candomblé ou as raízes da capoeira. O interesse é sempre praia, mulher, axé e caipirinha… Não que nada disso seja ruim, mas está longe de ser o que nos define.
Meus escritores e músicos favoritos são brasileiros por algum motivo… Nosso vocabulário é o mais rico e completo, nossas letras, as mais líricas. Manuel Bandeira e Drummond nasceram nesta terra de crimes infames e retrataram seus mundos de forma crítica e verídica, sem depreciar o que somos e valorizamos de verdade.
Não podemos mais vender essa imagem que os estrangeiros têm feito de nós, mesmo porque corremos o risco de um dia acreditar nela.
* * *
Bruna Pestana Bezerra faz administração, mas escreve e sonha em abraçar o mundo. Voa alto sem tirar os pés do chão, porque tem medo de altura.
Fale com ela: bruninha_pb@hotmail.com
© 2016 Revista Interlúdio - Todos os direitos reservados - contato@revistainterludio.com.br