Os Visitantes
Os Visitantes (The Visitors, 1972), de Elia Kazan
Após o autobiográfico Terra de um Sonho Distante (1963), no qual retoma o seu desejo de ir para a América, Elia Kazan dirigiu apenas três filmes: Movidos Pelo Ódio, Os Visitantes e O Último Magnata. Era um diretor com um grande número de clássicos nas costas: Uma Rua Chamada Pecado, Sindicato de Ladrões, ambos com Marlon Brando, Vidas Amargas, com James Dean, Clamor do Sexo, com Warren Beatty e Natalie Wood, são alguns dos mais bem sucedidos.
Os Visitantes é um filme pequeno, filmado com equipe minúscula e baixo orçamento. Na época, este extraordinário cineasta já havia deixado o cinema em segundo plano para dedicar-se à literatura. Trata-se de uma história sombria sobre soldados recém-chegados da Guerra do Vietnã que visitam o amigo que os delatou por um crime durante uma missão.
A tensão é sufocante durante toda a curta duração do filme (pouco menos de 90 minutos). Não sabemos exatamente o que esses dois visitantes querem, mas seus olhares, a maneira como eles encaram o anfitrião e sua concubina, deixam entrever que o barril de pólvora está prestes a explodir.
James Woods fazia sua estreia no cinema em alto estilo. Sua feição transmite a culpa, seu nervosismo constante entrega que a delação não lhe fez bem. Ele vive dia a dia com esse peso do passado. O pai de sua parceira, um escritor beberrão (que lembra Hemingway), parece sentir esse peso. Talvez por isso o trate como um frouxo, incapaz de fazer “coisas de macho” como caçar e brigar.
Este é o primeiro filme em que Kazan não é simpático com o personagem do delator. Ele mesmo teve sua carreira manchada por um episódio de delação durante o macarthismo, e realizou diversos filmes para provar seu ponto de vista: que a delação, por vezes, é algo necessário. No longa, Woods é visto como o “mocinho”, se é que podemos caracterizá-lo assim. Mas é sensivelmente um mocinho problemático, que não consegue a empatia da plateia.
Para Kazan, em uma situação de guerra como a que os visitantes deste longa passaram, a delação não parece tão justificável assim.
Sérgio Alpendre
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