A Rainha Margot
Rainha Margot (La Reine Margot, 1994), de Patrice Chéreau
A Rainha Margot é um filme longo, violento, cheio de atores de prestígio, que narra um dos episódios mais sangrentos da história da França: o massacre dos protestantes em 1572 e os acontecimentos posteriores ao massacre.
Lançado anteriormente numa dessas edições baratas de banca (e com imagem decente, apesar da procedência duvidosa), o premiadíssimo filme de 1994 completou o que Hotel de France havia iniciado sete anos antes: colocar o diretor Patrice Chéreau entre os nomes mais importantes para a indústria cinematográfica francesa da época, ao lado de Patrice Leconte, André Téchiné e Benoit Jacquot, da tendência histórico-psicológica (ou seja, cinema de qualidade requentado para os gostos da época).
Esses quatro diretores dominavam essa tendência que traduzia uma preocupação temática, em oposição aos neo-formalistas dos anos 1980 (Leos Carax na dianteira). Podemos dizer que o prestígio adquirido pelos histórico-psicológicos orientou um lado – que muitos pensam ser nefasto – do cinema francês que dura até hoje, e que rendeu, enfim, alguns bons frutos, apesar da aparência engessada de seus dramas.
Com seus cinco Césars (o Oscar do cinema francês) conquistados e sua trama histórica e imponente, o longa sai agora pela Versátil em edição estendida. São dez minutos a mais em relação ao DVD que se encontrava em locadoras.
Isabelle Adjani, à época ainda uma atriz muito bela, é a nobre Margot, católica que aceita se casar com o protestante Henri de Navarre (Daniel Auteil, de Caché) para tentar uma paz, num contexto em que a guerra entre católicos e protestantes já se estendia por muitos anos. A cerimônia de casamento é marcada para a Noite de São Bartolomeu. É nessa data simbólica para a igreja católica que acontece o massacre dos protestantes pelas forças católicas do rei. Tal massacre é retratado pelo filme com crueza impressionante, num efeito de realismo que só faz aprofundar o clima febril dos conflitos religiosos da época.
Infelizmente, A Rainha Margot traz muitos dos problemas da tradição de qualidade francesa, requentada para os insossos anos 1990. O filme trabalha com uma noção de realismo curiosa, com alguns cortes de cabelo respeitando a moda de 1994. É impossível sermos transportados para a época porque não temos aqui o registro cínico com o qual Derek Jarman realizou Caravaggio, por exemplo. Vemos as vestes, os costumes e a pompa da nobreza do século 16, mas em momento algum acreditamos nos personagens, que eles são daquela época.
Mesmo os bons atores, Adjani e Auteil, além da veterana Virna Lisi no papel de Catarina de Médici, e do grande Jean-Claude Brialy no papel de Coligny, o influente líder protestante que é próximo do rei católico, são incapazes de convencer. Jean-Hughes Anglade faz pior, esquece seu potencial para interpretar de maneira afetada o Rei Charles, um monarca marionete, mimado e problemático. Nem a presença da bela Ásia Argento contribui para fazer deste filme algo mais do que um desfile histórico pomposo, arrastado e sem imaginação.
É melhor estudar sobre o período nos bons livros de história.
Sérgio Alpendre
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