O Homem ao Lado
O Homem ao Lado (El Hombre de al Lado, 2009), de Mariano Cohn e Gastón Duprat
O Homem ao Lado não é um filme fácil de ser defendido. Isto acontece porque nele há uma série de imagens frágeis, com a câmera captando de maneira imprecisa as ações dos personagens, ou não sabendo como valorizar o potencial dramático das cenas.
Por outro lado, é difícil esquecer o vizinho grandalhão que, à procura da luz do sol, manda abrir uma janela em uma parede que dá diretamente para os aposentos internos de uma luxuosa casa, projetada em Buenos Aires pelo famoso arquiteto franco-suíço Le Corbusier.
Mais fácil é esquecer (ou se aborrecer com) o casal pseudo-intelectual modernoso que implica com a futura janela por sentir sua intimidade invadida. Mas eles são necessários como o contraponto boçal ao brutalizado vizinho, um mulherengo que fala grosso e tem visual de motoqueiro baderneiro – no entanto, revela uma justeza de caráter que não se encontra no casal principal.
A pergunta é: por que ter dois diretores – Mariano Cohn e Gastón Duprat, em seu segundo longa de ficção juntos – se nenhum deles dá conta de captar boas imagens ou de policiar as más ideias visuais do outro? Por que ter a autoria dividida, então, se essa autoria é frágil como papel debaixo de chuva? Poderia ser por medo de assinarem sozinhos, mas penso que essa não é a resposta.
O filme argentino, um dos muitos que suscitou a triste e injusta comparação entre a cinematografia de lá e a nossa, costuma ser defendido, portanto, pelos retratos de personagens, e até certo ponto, é justo defendê-lo assim. Mas seria ignorar que, em matéria de cinema, O Homem ao Lado deixa a desejar.
O que o filme nos mostra de certa elite intelectual bonaerense, que finge atentar para os pobres (para o outro, em suma), mas na verdade é egoísta e mesquinha, apesar dos disfarces, não convém ignorar. Mas não é injusto pedir um pouco mais de zelo no trato com as imagens, na construção das sequências e no cuidado com o que a câmera capta. Se aceitarmos o “seja o que Deus quiser” como forma estética, para que serviríamos nós, os críticos?
Sérgio Alpendre
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