Ano VII

O Vencedor

segunda-feira nov 28, 2011

O Vencedor (The Fighter, 2010), de David O. Russell

Quando vemos as imagens de um documentário mostrando os dois irmãos boxeadores andando nas ruas, trabalhando em asfaltos, interagindo com os moradores da pequena cidade onde moram, podemos pensar: “Xi, mais um desses falsos documentários filmados porcamente em digital, em alternância com imagens mais caprichadas em película”.

Felizmente, seria um pensamento em falso. Aos poucos o cinema domina, e essa dominação permanece durante todo o filme. Não incomoda que eles tenham aproveitado (ou recriado) as narrações televisivas nas lutas do irmão. Não é isso que faz com que o cinema se submeta à televisão, como apontaram alguns críticos. As imagens aconteceram, os narradores de boxe normalmente ficam ali, do lado do ringue ou numa cabine dentro do ginásio, não é incomum ouvirmos suas vozes, e a ausência deles não traria maior verdade cinematográfica ao filme.

Traria, talvez, uma certa distância, o que no caso não é essencial, pois somos jogados dentro da vida pessoal deles, acompanhamos a luta contra os problemas todos: mãe dominadora, irmão mais velho viciado, pai banana, desconcentração constante do lutador, irmãs absurdamente parasitárias, etc. Uma distância maior não serviria. Nem era necessário ter qualquer polidez ao usar essas narrações. Boxe é, também, um espetáculo (alguns diriam que de péssimo gosto, mas não importa). Espetáculo pede narração espetacular, que valorize os melhores momentos das lutas e nos coloque no calor que emana do ringue.

O mais legal é que o irmão fracassado, que desperdiçou sua grande chance, está ali, torcendo pelo irmão mais novo (Mark Wahlberg), e este está totalmente entregue ao condicionamento físico e à necessidade de desenvolver a técnica para ser um vencedor. A entrega do irmão mais velho (Christian Bale) é impressionante.

A trilha de classic rock é um espetáculo à parte: Rolling Stones, Aerosmith, Traffic, e, especialmente, Led Zeppelin, banda que tem uma força descomunal no cinema (a hora que toca “Good Times Bad Times” provoca arrepios em quem gosta do estilo).

Existem filmes melhores sobre ou com o esporte. Touro Indomável, Rocky – Um Lutador, Menina de Ouro, Marcado pela Sarjeta, Punhos de Campeão e Ali, por exemplo, são mais completos. Mas nenhum deles desperta tanta vontade de sair socando por aí como O Vencedor.

Sérgio Alpendre

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