Texto: Alexandre Carvalho dos Santos
No Rio de Janeiro é mais comum. Aqui é mais raro, ouvir a expressão pé-sujo relacionada a um bar. Talvez se explique por uma repulsa paulistana a ligar a imagem de um pé descalço e encardido às delícias da parte de cima do balcão. Ficamos chamando tudo de boteco, e o advento dos “botecos-chiques” acabou confundindo mais a coisa. Há bar para gente rica, que serve uísque com energético, e é chamado de boteco, e há pé-sujo que faz justiça à classificação e também vira boteco. Para o dicionário, tanto pé-sujo quanto boteco são termos depreciativos, mas o sr. Aurélio está meio fora de forma em relação ao léxico da alcoolemia.
Uma característica comum a alguns dos melhores botequinhos de São Paulo: ficam distantes dos bairros mais festivos da cidade, frequentemente em regiões onde você jamais procuraria um lugar para levar sua cara-metade; e às vezes nem é recomendável mesmo que o faça. É o caso do imperdível Bar do Luiz Nozoie.
O boteco fica na Av. Cursino, na região da Saúde, zona sul de São Paulo. A avenida é mais conhecida como um dos caminhos possíveis para o zoológico. Entre pet-shops, bancos, salões de beleza, farmácias e outras portinhas de pequeno comércio, fica este boteco imbatível, tocado por uma família de orientais, com os filhos do seu Luiz à frente. Há um longo balcão que começa quase na porta do bar e algumas mesas de ferro, daquelas bem simples. Mas em cima do balcão e na cozinha, os acepipes são de primeira, com destaque para os frutos do mar, que seu Luiz traz de suas pescarias semanais no Guarujá. Os espetinhos de camarão e de peixe espada têm gosto de quiosque de praia, embora muito mais sequinhos e saborosos. Os muslitos também chamam a atenção, assim como os pastéis de carne e queijo, que são campeões de pedidos no bar. Sobre o balcão, desfila uma variedade de iguarias inesquecíveis: camarões graúdos ao vinagrete, rollmops (sempre devoro um quando vou lá), lula, polvo ao vinagrete (para mim, o melhor de São Paulo), além de frios que, embora apetitosos, tornam-se meros coadjuvantes na companhia de tantas especialidades do mar, e tão bem feitas.
Como um bom boteco depende sobretudo de uma boa oferta de bebida, o Luiz não deixa por menos. Oferece cerveja de garrafa geladíssima, conservada assim por uma antiga geladeira de sorvete. Mas tente convencer o seu fígado a combinar as cervejinhas com uma e outra batida de amendoim, preparação em que os filhos do Luiz são samurais de espada afiada. Ah, e vá de táxi para encontrar o caminho de volta depois desse coquetel.
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Bar do Luiz Nozoie – Av. do Cursino, 1210 – Tel.: 5061-4554
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